"É ATRAVÉS DA VIA EMOCIONAL QUE A CRIANÇA APREENDE O MUNDO EXTERIOR, E SE CONSTRÓI ENQUANTO PESSOA"
João dos Santos

quarta-feira, dezembro 28, 2011

Adolescência e Relações Familiares



EU, UMA PESSOA ÚNICA E COM GRANDES POSSIBILIDADES

Estás à porta (ou talvez já tenhas entrado) de uma nova etapa da tua vida em que ocorrem importantes alterações e que te irá conduzir da infância ao estado adulto. É a adolescência. Trata-se de uma etapa muito importante na construção da pessoa, na qual desempenham um papel muito importante as relações que estabeleces com os teus amigos e amigas, com a tua família, com os teus professores.

Todas estas alterações também afectam as pessoas adultas que te rodeiam: dizem que já és crescido, mas continuam a tratar-te como se não o fosses. Às vezes estas pessoas adultas não sabem como tratar-te: pensa que os adultos deixaram para trás há muitos anos a sua própria adolescência. Tem paciência e confia neles: gostam de ti e querem ajudar-te.

Por vezes, irão haver dificuldades (que nova etapa não as tem ) "angústias", inseguranças, confusões...; mas não te esqueças que ao mesmo tempo será uma época muito estimulante, de grandes progressos, de crescimento físico e intelectual de novas e maravilhosas experiências.

«Trata-se de um conjunto de anos vitais, sem um limite preciso e com o encargo social oculto de te dedicares a ser adolescente». (Jaime Funes).

Os adolescentes são muito influenciados pelas suas famílias ainda que, por vezes, nalgumas circunstâncias estes laços possam ser abalados.

Estudos feitos nas últimas décadas têm mostrado, de forma consistente, que existe menos conflito entre os adolescentes e suas famílias do que se acreditava previamente. Estes estudos referem que o conflito está presente em apenas 15 % a 25 % das famílias.

A ocorrência destes conflitos está relacionada sobretudo com as rotinas familiares, o estabelecimento de horas de entrada em casa, namoros, notas escolares, aparência física e hábitos alimentares. As investigações feitas nesta área indicaram igualmente que o conflito entre pais e adolescentes acerca dos valores económicos, religiosos, sociais e políticos são relativamente raros.

Os pais continuam, hoje, a influenciar os seus filhos adolescentes não só nas suas crenças mas também ao nível do seu comportamento. Contudo, mães e pais influenciam os adolescentes de maneira diferente.

Parecem existir, pois, diferenças consideráveis entre o comportamento e o papel das mães e dos pais nas relações familiares com os filhos adolescentes.

Assim, os pais tendem a encorajar o desenvolvimento intelectual e frequentemente envolvem-se em actividades de resolução de problemas e discussão dentro da família. Como consequência, quer rapazes quer raparigas discutem ideias com os pais.

O envolvimento dos adolescentes com as mães é mais complexo. Mães e adolescentes interagem no que diz respeito por exemplo às responsabilidades nas tarefas domésticas, trabalhos escolares, disciplina dentro e fora de casa e actividades de lazer. Estas áreas podem resultar em maiores conflitos entre as mães e os seus filhos adolescentes contudo, tendem a criar maior proximidade entre mães/filhos de que entre pais/filhos.

As dinâmicas familiares bem como as alianças dentro da família desempenham também um papel importante, dado que estes elementos começam a moldar o comportamento da pessoa mesmo antes da adolescência.

Muito embora as alianças entre os vários membros da família sejam naturais e saudáveis, é importante que o pai e a mãe se mantenham unidos e que mantenham laços distintos com os seus filhos.

Os pais necessitam de trabalhar juntos para criarem e disciplinarem os filhos. Ou seja, uma relação estreita de um pai com um filho que exclua o outro pai pode perturbar o desenvolvimento do adolescente na medida em que o pai excluído perde estatuto enquanto agente socializador e figura de autoridade.

Os problemas podem surgir também de outro tipo de desequilíbrios como seja a ausência de um dos pais devido a divórcio ou separação.

Ambos os progenitores devem ter uma participação activa na criação de dinâmicas familiares que promovam o crescimento harmonioso dos seus filhos adolescentes, ou seja, deve existir coerência entre as práticas educativas dos pais.

Numa altura em que um adolescente está a testar novos papéis e está a lutar para atingir uma nova identidade, a autoridade parental pode ser seriamente posta à prova quando em casa existe apenas um dos pais.

Podemos referir, em jeito de conclusão, e corroborando as opiniões do Dr. Daniel Sampaio ,  as famílias se adaptam melhor aos adolescentes se forem capazes de negociar as mudanças de uma forma racional, que tome em consideração as necessidades e desejos de cada um.

A coesão familiar pode ser preservada quando os pais e adolescentes estão capazes de se verem como iguais numa relação reciprocidade.

 Por outro lado, uma comunicação aberta os vários membros da família, em que cada um possa falar acerca das suas preocupações/desejos sem fricção, ajuda igualmente a manter a coesão familiar.

Quando existem dificuldades nesta interacção familiar e pais filhos não conseguem comunicar, a orientação profissional de um psicólogo pode ajudar nesse processo, e se necessário for, encaminhar o próprio adolescente para uma psicoterapia.

Nesse caso, o adolescente receberá uma escuta profissional contextualizada por um espaço seguro onde ele possa expressar suas emoções, desejos, curiosidades, dúvidas e fantasias, características dessa fase da vida.

Procurar uma orientação adequada é um dever dos pais, pois são espelhos fundamentais na educação dos filhos e responsáveis por lhes proporcionar a segurança emocional que necessitam.

A adolescência pode ser um momento difícil para pais e filhos.... as duas partes envolvidas não devem esquecer que: “Todas as pessoas gostam de saber que são amadas e admiradas, apesar dos defeitos que possam ter!”

O respeito e a negociação constituem a base de todos os relacionamentos, e são indispensáveis em qualquer idade. Pense nisso!

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Terapia Familiar


O que é?

A terapia familiar sistémica, cujas formas mais conhecidas são a terapia familiar e a terapia conjugal, é uma forma de psicoterapia que se centra nas relações e na dinâmica própria de cada unidade familiar.

Independentemente da origem do problema trazido a consulta, a terapia familiar acredita que o envolvimento da família traz benefícios na sua resolução.
A família é o primeiro contexto social que conhecemos e é nela que iniciamos a aprendizagem da relação com o outro. É a nossa primeira referência em termos de valores e papéis sociais e é dentro dela que se vão tecendo as emoções que nos formam como pessoa. É também nas famílias que germinam alguns dos conflitos, bloqueios e obstáculos mais difíceis de ultrapassar. Por esse motivo, nelas residem as soluções para alguns problemas individuais, familiares e conjugais.
 O conceito de família não se restringe, para um terapeuta familiar, ao modelo “tradicional” (casal, pais e filhos), mas procura abranger as redes de apoio e as relações mais significativas entre as pessoas envolvidas numa dada situação, com ou sem grau de parentesco entre elas.

Como se processa?

Na abordagem da terapia familiar e conjugal, proporciona-se um espaço conjunto de resolução de problemas, gerindo-se o impacto que o processo terapêutico vai implicando no todo familiar/conjugal.
Nos casais trabalha-se a comunicação, o respeito pela individualidade, a etapa da relação e o projecto de vida comum. Na família procuram-se soluções para o crescimento autónomo de cada membro, a par da atenção dada a toda a dinâmica e crescimento emocional da unidade familiar.
A metodologia de intervenção procura encontrar soluções breves e satisfatórias para todos os elementos utilizando os recursos da própria família. As situações de mal-estar ou ruptura vão-se transformando em oportunidades de crescimento conjunto à medida que se vão optimizando as forças, a sabedoria e o apoio do sistema familiar.
Embora a terapia familiar seja eficaz em qualquer situação de sofrimento ou dilema humano, ficam alguns exemplos de situações em que se tem revelado eficaz:

Áreas de Intervenção:

  • crises familiares
  • dificuldades de relacionamento entre família
  • dificuldades de relação com os filhos
  • dificuldades em lidar com filhos adolescentes,
  • Instabilidade Emocional
  • Como viver com a saída de casa dos filhos: ninho vazio
  • Integrar os filhos:os meus, os teus, os nossos
  • Crises Conjugais
  • Conflitos
  • Compreender os novos tipos de familias
  • Infidelidade
  • Apoio Parental
  • Imigração/Adaptação cultural
  • Problemas de comportamento social/escolar
  • Adaptação a situações de doença/condição crónica
  • Situações de Luto
  • Saúde Mental
  • Comportamentos aditivos (álcool, drogas, jogo)
  • Agressividade/Violência
  • Transtornos emocionais como ansiedade e depressão
  • Conflitos com a família de origem
  • Desentendimentos financeiros
  • Mediação familiar em situações de ruptura
  • Divórcio
Por Dora Rebelo. Terapeuta Familiar

quarta-feira, novembro 16, 2011

Crise Conjugal... Fim ou Recomeço de uma relação?



A discussão termina todos os dias em gritos e insultos. Um quer sair à noite e o outro não; um chega tarde e o outro zanga-se; há um que gasta demais e outro de menos; ambos querem ir de férias e cada qual escolhe um destino. Tudo serve para subir o tom, para um deles sair do quarto, levar a almofada e dormir no sofá.

As zangas, os medos, os ressentimentos, o silêncio entram no meu consultório e ficam várias semanas a ser dissecados até indicarem uma de duas portas
: - o fim ou o recomeço.

O trabalho vai-se desenvolvendo em torno de reflexões para que os casais consigam perceber quais as razões que desgastam a relação. Os indícios são visíveis a olho nu e muitas vezes estavam lá desde o princípio. Só que a maioria prefere fechar os olhos e mergulhar de cabeça numa paixão. Até ao momento em deixa de ser possível ignorar os problemas que minam um relacionamento: Expectativas defraudadas ou dificuldade em aceitar o outro são algumas das grandes dificuldades identificadas entre os casais.

E deixar de falar é o maior dos erros. Fingir que está tudo bem. Esperar que os problemas desapareçam sem fazer nada para isso é o mesmo que acreditar em milagres. A estratégia tem quase sempre um único resultado: "O casal afasta-se cada vez mais até ao dia em que olham um para o outro e descobrem que já não se reconhecem." 

Ficam sozinhos, sem vontade de conversar e sentem-se perdidos: "É o momento de se sentarem frente-a-frente e forçar o diálogo." Se a estratégia falhar é sempre possível recorrer à terapia de casal.

Embora a procura da terapia de casal tenha vindo a crescer, ainda há muita resistência em pedir ajuda profissional, não só por falta de divulgação, mas também porque os casais receiam uma invasão da sua  intimidade.

É importante salientar que nem sempre , entrar num consultório e pedir ajuda de um terapeuta, serão suficientes para salvar o casamento. Haverá sempre histórias que terminam em divórcio.

A separação é uma decisão solitária que nunca surge de ânimo leve. É preciso perceber quando vale a pena insistir e quando chegou o momento de desistir.

Muitas vezes não há como restaurar o amor, a confiança e o respeito" – que são a meu ver, os três pilares obrigatórios para manter uma vida em conjunto. No dia em que isso deixar de acontecer, significa que um ou ambos anularam a identidade e deixaram de existir.

O divórcio, é uma "guerra de silêncios". É não fazer as refeições em conjunto, dormir em quartos separados, evitar a intimidade ou não ter vontade de regressar a casa.

É preciso saber terminar uma relação com dignidade, o que acontece poucas vezes." Boa parte dos casais deixa a relação arrastar-se e espera por motivos fortes para tomar uma decisão. Usam a infidelidade, a agressão verbal ou física para justificarem o divórcio, quando os motivos começaram muito antes.

Mesmo que o divórcio seja o caminho, é preciso continuar a falar: "Perceber o que aconteceu, assumir responsabilidades sem atribuir culpas é um processo obrigatório para qualquer casal que opta pela separação". Decifrar todos os passos que conduziram ao fim do casamento é a única saída para não cometer os mesmos erros em futuras relações. "Caso contrário, corre-se o risco de saltar de pessoa em pessoa sem qualquer perspectiva."

O fim é o início de um outro capítulo em que é preciso aprender que o "amor não basta por si só para suportar um casamento." Exige esforço diário, mesmo quando há filhos para cuidar, empregos para assegurar ou resto do quotidiano a consumir tempo e energia. "Pode parecer tarefa quase impossível, mas todos nós nos lembramos da ginástica que fazíamos no começo de uma relação para conseguirmos ficar juntos, nem que fosse por pouco tempo.

Estabelecer prioridades é o principal trunfo para vencer a rotina. E saber que o amor não é eterno é o passaporte para uma relação duradoura.
A última atitude que devemos ter é encarar o outro como uma casa ou um carro que irá continuar a existir enquanto essa for a nossa vontade.

Sempre que a rotina se transformar numa máquina sem travões será necessário inventar pelo menos dez minutos por dia para o casal se encontrar a sós. Namorar, brincar ou conversar são hábitos diários a manter a todo o custo. Um dia por mês deverá ser dedicado a uma curta viagem para partilharem "necessidades e preocupações.
São gestos que funcionam como pilhas de longa duração para um casamento, desde que ninguém se esqueça que qualquer relação fracassa quando "ambos ou apenas um" abdica do seu próprio espaço e afasta o ciclo de amizades, mesmo quando o amor é absorvente e tem dificuldade em dividir o tempo com os outros:

 O casamento não é como subir uma montanha e ficar sentado no topo. São várias montanhas que têm de ser escaladas todos os dias.


Por Maria de Jesus Candeias

domingo, novembro 06, 2011

Hiperactivos ou com sono?


Em Portugal dorme-se pouco e mal. Por trabalhar directamente com crianças e adolescentes, tenho verificado que surgem cada vez mais casos de crianças que apresentam perturbações do sono. Teresa Paiva (Neurologista) e Helena Rebelo Pinto (Psicóloga) realizaram recentemente um estudo em que concluíram, através de inquéritos, que a maioria das crianças e adolescentes portugueses dormem apenas metade do que necessitam. Ora isto traduz-se numa sonolência diurna que afecta o rendimento escolar e as relações sociais. Por outro lado, diversos estudos indicaram que a más rotinas de sono está associada uma maior probabilidade de diabetes, hipertensão arterial, depressão, insónia e, tal como já foi mencionado anteriormente, insucesso escolar. O facto de dormir menos horas do que se necessita afecta a forma como realizamos a aquisição dos conhecimentos, principalmente os de cariz abstracto; assim poderemos pensar que poderá existir uma relação entre más rotinas de sono e os resultados negativos nos exames nacionais de Matemática .

Quando questionados, alguns jovens referem que dormem o número de horas considerado necessário pois levantam-se perto da hora do almoço ou a meio da tarde. No entanto, é essencial que tenham presente que esse sono não tem a mesma qualidade pois existem hormonas que apenas são segregadas quando estamos a dormir durante a noite, estando isto relacionado com a evolução humana. Infelizmente os conhecimentos teóricos não são suficientes para mudar hábitos, principalmente os de cariz social pois muitos adolescentes têm actividades sociais nocturnas que recusam abandonar com risco de exclusão do círculo social que conhecem. Os horários das discotecas, as mensagens de telemóvel nocturnas gratuitas e a divulgação de informações nas redes sociais como o Facebook promovem este tipo de práticas nocturnas. Por outro lado, os horários laborais dos pais, que levaram a que se jante em Portugal cada vez mais tarde, levaram ao prolongamento do serão. O que poderá ser feito?

Adaptação à nova realidade familiar. Cada familiar deverá procurar encontrar os seus próprios horários, de forma a conciliar as necessidades individuais com as da família, com isto pretendo dizer que considero essencial que sejam respeitados os desejos e as necessidades de cada criança/jovem/adultos e simultaneamente exista uma procura de existirem actividades em família. Procurar concretizar isto na vida do dia-a-dia não é uma tarefa fácil pois as solicitações são diversas mas penso que é importante estabelecer prioridades.
Todos conhecemos crianças que, quando estão com sono, mexem-se mais do que o habitual, choram e fazem as “chamadas de atenção”. Assim, não é de surpreender que o professor, ao ser confrontado com a criança que diariamente vai com sono para a escola e adopte estes comportamentos, considere que estes comportamentos são “habituais”, logo que “fazer parte” da personalidade da criança – assim compreende-se o elevado número de sinalizações, por parte da comunidade docente de “crianças hiperactivas”. Não pretendo com isto afirmar que o número de crianças hiperactivas é exagerado, antes que é necessária uma avaliação correcta. Gostaria ainda de salientar que o número de crianças diagnosticadas com hiperactividade tem aumentado nos últimos anos, existindo muitos factores apontados para isso.
Num artigo divulgado no jornal Público (14/08/2011), Teresa Paiva e Helena Rebelo Pinto referem que os principais objectivos do seu projecto passam por “Divulgar os conhecimentos básicos sobre o sono e a sua relação com a saúde, sensibilizar as crianças e os jovens para a importância de dormir bem e adquirir bons hábitos de sono e preparar os agentes educativos para uma intervenção eficaz na melhoria do sono das crianças e dos adolescentes”.  
Julgo que este estudo poderá ser uma mais-valia para a sociedade em geral e para os técnicos de saúde mental em particular pois uma mente cansada dificilmente consegue pensar.

domingo, outubro 02, 2011

Obsessões e Compulsões nas crianças: Normal ou Patológico?


Um, dois, três, quatro, cinco, seis” – diz a criança no carro a contar as árvores ou postes que vão passando.
É habitual e até normal as crianças apresentarem, ao longo do crescimento, algumas obsessões. No entanto, com o desenvolvimento psicológico é espectável que esses pensamentos obsessivos e intrusivos desapareçam.
Como as crianças têm, normalmente, uma enorme dificuldade em relatar e descrever sensações, emoções e/ou sintomas, muitas vezes as suas as atitudes obsessivas e/ou compulsivas podem ser mal entendidas pelos pais, os quais tentam corrigir com chamadas de atenção, castigos ou agressões.
É importante, então, compreender do que se trata quando se fala de Perturbação Obsessiva-Compulsiva da Personalidade.
A obsessão é caracterizada pelo perfeccionismo, pela preocupação excessiva com detalhes, regras, listas, ordens, organização ou horários, entre outros. É comum que esta se desenvolva antes das obsessões ou, até mesmo, que exista sem obsessões (no caso das crianças). E há diversas formas de se mostrar. Por exemplo:
  • Ideias obsessivas de Dúvida - dificuldade em acreditar que determinada tarefa foi feita da forma certa. Ex: Nestes casos, os cadernos das crianças têm muitos sinais de borracha por terem apagado e escrito muitas vezes a mesma palavra
  • Ideias obsessivas de Sujidade e Contaminação – estão relacionadas com temas como pó, sangue, doenças. A criança pode ter ideias obsessivas quanto à sua auto-estima, achando-se suja por exemplo.
Por sua vez, a compulsão, é um comportamento sistemático, repetitivo e intencional que surge, muitas vezes, devido à ansiedade causada pela obsessão ou para evitar que alguma situação que assusta a criança realmente ocorra. Por exemplo:  “se eu não bater na madeira 3 vezes, alguém de minha família vai ficar doente”... “se eu não rezar 2 vezes essa oração, o monstro mau aparece debaixo da cama”...
As compulsões mais comuns são:
  • Limpeza e descontaminação - como por exemplo, lavar mãos, roupas, objectos  pessoais repetidamente
  • Verificação - diz respeito à necessidade absurda de testar, conferir ou examinar repetidamente as coisas para conferir que ficou bem feito. Por exemplo, voltar inúmeras vezes para confirmar se a porta está fechada, a luz apagada, a janela fechada, a gaveta fechada, etc.
  • Repetir ou tocar - muito comum também, uma vez que a própria característica das compulsões é a repetição. Acender e apagar a luz diversas vezes para aliviar a ansiedade da dúvida de ter deixado acesa
33 a 50% das pessoas referem que o início da perturbação ocorreu na infância ou adolescência pelo que é preciso estar atento quando um pequeno grau de obsessões não só se mantém como, diversas vezes, aumenta e domina o dia-a-dia da criança, colocando-a num enorme sofrimento pois, por vezes, o inicio é repentino e muito claro para as pessoas em redor; outras vezes é insidioso e pouco óbvio.

Outro sinal que poderá ser valioso para os pais diz respeito ao rendimento escolar. Este, por norma, tende a diminuir como consequência da menor capacidade de concentração da criança, que se encontra dominada e assaltada por outros pensamentos que não aqueles que dizem respeito à aprendizagem.
Acima de tudo, independentemente das diversas características que a Perturbação Obsessivo-Compulsiva pode ter e apresentar, é fundamental compreender se o bem-estar da criança está a ser posto em causa pois, muitas vezes, a criança, devido às obsessões e/ou compulsões, sofre internamente, muitas vezes de forma silenciosa, e nestes casos é importante procurar ajuda especializada. A intervenção precoce nestes casos pode evitar a consolidação de funcionamentos muito angustiantes para a criança.

É fundamental nunca esquecer que, a infância, apesar de repleta de contos infantis com finais felizes, salas de brinquedos e muita inocência pode, naturalmente, ser contaminada por dúvidas, medos, receios e/ou angústias. Que são válidas e legitimas e que devem ser ouvidas e tratadas para que a criança e os pais consigam dar um nome ao sofrimento que não entendem e reconhecem.

Por Maria de Noronha, Psicóloga Clínica.

quarta-feira, setembro 28, 2011

SAÚDE: Pânico "ataca" mais Geração à Rasca



Estão a aumentar os problemas com ansiedade nos jovens portugueses e os médicos procuram as razões.
O Jornal i exemplifica a crescente preocupação que se instalou na sociedade portuguesa com o caso de Catarina, 19 anos: em seis meses deixou de conseguir fazer a pé os 15 minutos entre a casa e a faculdade.
Tudo por causa dos ataques de pânico acompanhados de taquicardia e dores de cabeça, e de um medo de uma doença mortal que não foi revelada por nenhum exame médico.
«Sei que é psicológico mas acaba por ser limitativo. Vai-se agravando, deixamos de fazer as coisas com medo de que nos dê alguma coisa. Vou no metro sozinha e é aquela sensação de que vou morrer ali, com toda a gente a olhar e ao mesmo tempo ninguém conhecido», afirma a estudante em História citada pelo jornal.
Casos como o de Catarina, não havendo números que digam se estão a aumentar, começam a ser mais visíveis nos consultórios, confirmam psicólogos contactados pelo i.
O momento de entrada na faculdade ou a transição para a vida profissional acabam por desencadear picos de ansiedade e pânico, que revelam quadros de depressão e insegurança que muitas vezes os pais só reconhecem quando são forçados a ir a uma urgência, explica Maria de Jesus Candeias, psicóloga clínica na Crescer, Centro de Psicologia Infantil e Juvenil.
Por detrás da ansiedade, que pode transformar-se em pânico, a psicóloga acredita que está o aumento da exigência dos papéis escolares e profissionais mas também o facto de os jovens crescerem mais sozinhos, com prejuízo para a autoconfiança e redes de segurança.
entrevista cedida por Maria de Jesus Candeias, Psicóloga ao jornal i, em 29/8/2011

domingo, setembro 11, 2011

Fobia Escolar...



O Início do ano lectivo está aí e o retorno ou a entrada na escola nem sempre é calma e tranquila para todas as crianças.

Há sempre algum nervosimo e ansiedade no retorno, pode mesmo para alguns atingir niveis muito elevados de ansiedade e angustia com uma recusa total à escola: a Fobia escolar

A Fobia escolar afecta, cerca de 5% de crianças do jardim de infância, e cerca de 2% de crianças do ensino básico registando-se uma maior incidência de fobia escolar no primeiro ano lectivo da criança.


No entanto não é raro que a fobia escolar apareça no, 2º ciclo, ou secundário ou até mesmo na entrada da faculdade, pois como referido estas manifestações estão muito associadas a “ansiedade face ao desconhecido” e as mudanças de ciclo escolar, são sempre algo muito significativas para a criança e /ou adolescente.

O que caracteriza uma fobia escolar?

A Fobia escolar é um medo exacerbado que a criança sente em ir para a escola.
A Fobia escolar é uma perturbaçao da ansiedade e tem tratamento.

Numa situação típica de fobia escolar, a criança/jovem logo de manhã acorda com queixumes de dor de barriga associado por vezes a vómitos, diarreias, dor de cabeça, com intensificação do sintoma à medida que se aproxima a hora de ir para a escola, com verbalização do tipo “…não quero ir para a escola…” ou por vezes na véspera poderá surgir a questão “…amanhã é dia de ir para a escola?...” Despertando nos próprios pais alguma ansiedade na busca de melhor lidar com a situação e não deitar tudo a perder.

Na Fobia escolar da criança está, quase sempre, latente uma grande “ansiedade de separação” dos seus pais e do mundo que lhe é familiar e no qual se sente protegido.
Estas crianças geralmente, apresentam também, dificuldades em dormir sozinhas, medo de ir para casa de amigos, entre outras relutâncias em se distanciar das pessoas com as quais passa a maior parte do tempo.

Esta fobia escolar ou recusa ansiosa escolar é mais frequente no primeiro ano lectivo da vida da criança. Na fobia escolar, a criança fala da escola sempre com medo, negativismo e pode chorar para não ir.

Até se transformar na ‘segunda casa’, a escola representa um mundo desconhecido. Por isso, nos primeiros dias de aula, os sintomas podem ser mais intensos porque a criança se vê às cinco minutos parece uma eternidade.

Na escola, é muito comum, que a criança se afaste dos colegas, se isole, não brinque, já que se sente muito mal lá dentro.

Além da manifestação explícita de não querer ir à escola, a fobia escolar pode atingir sintomas tais como :choro frequente, suores frios ou tremores, diarreia, vómitos, medo de ficar sozinha, medo de algo abstracto, incapacidade de enfrentar o problema sozinha, perda do apetite, voltar a urinar na cama, insónias, pesadelos, entre outros.

A fobia é um problema que difere completamente de preguiça ou má vontade, e do absentismo. Os próprios pais percebem isso no comportamento da criança. Também é diferente da recusa esporádica em ir à escola, especialmente após as férias.

No caso da fobia, as crianças regressam a casa, apresentam ansiedade com sintomas psicossomáticos, enquanto que os absentistas não vão para casa, não sentem ansiedade, nem sintomas. Enquanto que nas fobias as crianças têm um perfil caracterizado por serem conscienciosas, perfeccionistas e bem comportadas, nos absentistas manifestam comportamentos desajustados ou delinquentes. Esta distinção é importante que seja feita, para um modo de abordar e intervir adequado pelos próprios pais.

Geralmente, as crianças que desenvolvem essa ansiedade e medo incontroláveis são boas alunas e não perdem rendimento escolar.

Quando o problema surge é essencial que a equipa da escola saiba o que está acontecendo, pois, muitas vezes, uma figura de confiança do aluno deve acompanhá-lo e permanecer por um determinado período no ambiente escolar, até que ele desenvolva autoconfiança. Os próprios coordenadores podem, por vezes, desempenhar este papel, ao ficarem mais próximos deste aluno, encorajando-o a ponto de se sentir bem na sala de aula.

O que pode estar na origem deste tipo de fobia?
Os motivos que levam a criança a desenvolver fobia escolar podem ser vários ou uma associação deles. Dentre eles estão a predisposição biológica (genética), a mudança de escola, professor severo, conflito com colegas, o temperamento da criança, a vulnerabilidade à acção do ambiente familiar( mudança de casa, divórcio dos pais, morte de um familiar, conflitos familiares), e até mesmo a preocupação excessiva de alguns pais com a separação dos seus filhos.

Os sintomas da fobia escolar estão fortemente associados ao tipo de relação da criança com seus pais, desde o nascimento até a idade pré-escolar.

Porém, é interessante salientar que duas ou mais crianças que recebem a mesma educação, tanto escolar quanto familiar, (filhas dos mesmos pais), não significa necessariamente que todas irão desenvolver fobia escolar.

A fobia escolar também pode ter origem em agressões verbais ou físicas de que a criança foi vítima na escola ( ou seja, ser vítima de bullying).

Em que é que difere de uma ansiedade normal no regresso às aulas?

O primeiro ou primeiros dias desencadeiam naturalmente algum nervosismo, perante a ideia de novos professores, nova turma, nova escola ou simplesmente a mudança de rotina das férias para as aulas, até os mais calmos poderão ficar afectados nas primeiras semanas de aulas.

Outros casos existem em que a ansiedade normal pode dar lugar a medos mais significativos. As fobias ocorrem com frequência nas crianças e por vezes desaparecem espontaneamente, sinal que a criança conseguiu ultrapassar os seus receios.
No caso específico da fobia escolar, enquanto perturbação emocional que desencadeia uma resposta fóbica face à escola, inicialmente não deverá ser motivo de alarme, de um modo tranquilo os pais deverão sempre incentivar e encarar com optimismo a hora de ir para a escola, sem forçar bruscamente mas persistir no cumprimento da assiduidade escolar.
Caso este comportamento persista para além de dois meses, será importante procurar outro tipo de suporte de modo a evitar o agravamento da situação, mesmo na futura vida escolar e social da criança/jovem.
O que podem os pais fazer para ajudar os filhos com fobia escolar?


 

È muito importante que os pais, não ridicularizarem ou subestimem os medos da criança, pelo contrário, devem mostrar compreensão.

Porém, também devem facilitar que a criança se afaste da escola. No momento de ir para escola os pais devem ser firmes, mas respeitar a limitação de seus filhos, pois para eles já é muito difícil estar com esta dificuldade.

È importante Incentivar a criança a ir à escola, nunca obrigá-la e tentar tranquilizá-la, que no fim do dia volta a estar com os pais. Por vezes os pais poderão mesmo ter de permanecer durante alguns periodos na escoal para ajudar a criança a tranquilizar-se.
Manter o máximo de diálogo com a criança
Ajudar a criança a encontrar o meio de superar o obstáculo
Fazer com que os amigos sejam elementos importantes na inserção na escola.

Se os sintomas persistirem para além de dois meses, e em casos mais críticos, os pais devem encaminhar o filho para psicoterapia.O tratamento da criança com fobia escolar deve ser abrangente: é necessária a participação efectiva da escola, dos pais e do psicólogo. Essa interacção, entre todos e esse envolvimento é que vão fazer com que a criança supere a fobia.


É fundamental que os pais fiquem atentos quanto à procura de profissionais especializados ( psicólogos ou psicoterapeutas) dado que esta fobia pode ocasionar um afastamento da escola, fracasso e repetência escolar, vergonha de enfrentar novamente os colegas, entre outros factores.


Todos estas consequências reduzem a auto-estima da criança, com consequências para o resto de sua vida. Além disso, a tendência de uma criança com fobia escolar, se não for ajudada a ultrapassar a situação, é que desenvolva outros medos, como, por exemplo, de elevador, animais, escuro, etc. Enfim, os danos são grandes quando se adia o tratamento.


Procurar ajuda, ouvir as diretrizes dos profissionais envolvidos e poder dividir as dificuldades que possam encontrar no tratamento de seu filho, contribuirá efetivamente na maravilhosa tarefa de ser pai e mãe e no desenvolvimento de uma criança feliz.

Por
Maria de Jesus Candeias
Psicóloga Infantil e Psicoterapeuta

terça-feira, maio 10, 2011

TERAPIA FAMILIAR

O que é?

A terapia familiar sistémica, cujas formas mais conhecidas são a terapia familiar e a terapia conjugal, é uma forma de psicoterapia que se centra nas relações e na dinâmica própria de cada unidade familiar.

Independentemente da origem do problema trazido a consulta, a terapia familiar acredita que o envolvimento da família traz benefícios na sua resolução.
A família é o primeiro contexto social que conhecemos e é nela que iniciamos a aprendizagem da relação com o outro. É a nossa primeira referência em termos de valores e papéis sociais e é dentro dela que se vão tecendo as emoções que nos formam como pessoa. É também nas famílias que germinam alguns dos conflitos, bloqueios e obstáculos mais difíceis de ultrapassar. Por esse motivo, nelas residem as soluções para alguns problemas individuais, familiares e conjugais.
 O conceito de família não se restringe, para um terapeuta familiar, ao modelo “tradicional” (casal, pais e filhos), mas procura abranger as redes de apoio e as relações mais significativas entre as pessoas envolvidas numa dada situação, com ou sem grau de parentesco entre elas.

Como se processa?

Na abordagem da terapia familiar e conjugal, proporciona-se um espaço conjunto de resolução de problemas, gerindo-se o impacto que o processo terapêutico vai implicando no todo familiar/conjugal.
Nos casais trabalha-se a comunicação, o respeito pela individualidade, a etapa da relação e o projecto de vida comum. Na família procuram-se soluções para o crescimento autónomo de cada membro, a par da atenção dada a toda a dinâmica e crescimento emocional da unidade familiar.
A metodologia de intervenção procura encontrar soluções breves e satisfatórias para todos os elementos utilizando os recursos da própria família. As situações de mal-estar ou ruptura vão-se transformando em oportunidades de crescimento conjunto à medida que se vão optimizando as forças, a sabedoria e o apoio do sistema familiar.
Embora a terapia familiar seja eficaz em qualquer situação de sofrimento ou dilema humano, ficam alguns exemplos de situações em que se tem revelado eficaz:

Áreas de Intervenção:

  • Instabilidade Emocional
  • Crises Conjugais
  • Conflitos
  • Infidelidade
  • Apoio Parental
  • Imigração/Adaptação cultural
  • Problemas de comportamento social/escolar
  • Adaptação a situações de doença/condição crónica
  • Situações de Luto
  • Saúde Mental
  • Comportamentos aditivos (álcool, drogas, jogo)
  • Agressividade/Violência
  • Transtornos emocionais como ansiedade e depressão
  • Conflitos com a família de origem
  • Desentendimentos financeiros
  • Mediação familiar em situações de ruptura
  • Divórcio
Por Dora Rebelo. Terapeuta Familiar

quarta-feira, abril 20, 2011

Obsessão e compulsão nas crianças: normal ou patológico?


Um, dois, três, quatro, cinco, seis” – diz a criança no carro a contar as árvores ou postes que vão passando.
É habitual e até normal as crianças apresentarem, ao longo do crescimento, algumas obsessões. No entanto, com o desenvolvimento psicológico é espectável que esses pensamentos obsessivos e intrusivos desapareçam.
Como as crianças têm, normalmente, uma enorme dificuldade em relatar e descrever sensações, emoções e/ou sintomas, muitas vezes as suas as atitudes obsessivas e/ou compulsivas podem ser mal entendidas pelos pais, os quais tentam corrigir com chamadas de atenção, castigos ou agressões.
É importante, então, compreender do que se trata quando se fala de Perturbação Obsessiva-Compulsiva da Personalidade.
A obsessão é caracterizada pelo perfeccionismo, pela preocupação excessiva com detalhes, regras, listas, ordens, organização ou horários, entre outros. É comum que esta se desenvolva antes das obsessões ou, até mesmo, que exista sem obsessões (no caso das crianças). E há diversas formas de se mostrar. Por exemplo:
  • Ideias obsessivas de Dúvida - dificuldade em acreditar que determinada tarefa foi feita da forma certa. Ex: Nestes casos, os cadernos das crianças têm muitos sinais de borracha por terem apagado e escrito muitas vezes a mesma palavra
  • Ideias obsessivas de Sujidade e Contaminação – estão relacionadas com temas como pó, sangue, doenças. A criança pode ter ideias obsessivas quanto à sua auto-estima, achando-se suja por exemplo.
Por sua vez, a compulsão, é um comportamento sistemático, repetitivo e intencional que surge, muitas vezes, devido à ansiedade causada pela obsessão ou para evitar que alguma situação que assusta a criança realmente ocorra. Por exemplo:  “se eu não bater na madeira 3 vezes, alguém de minha família vai ficar doente”... “se eu não rezar 2 vezes essa oração, o monstro mau aparece debaixo da cama”...
As compulsões mais comuns são:
  • Limpeza e descontaminação - como por exemplo, lavar mãos, roupas, objectos  pessoais repetidamente
  • Verificação - diz respeito à necessidade absurda de testar, conferir ou examinar repetidamente as coisas para conferir que ficou bem feito. Por exemplo, voltar inúmeras vezes para confirmar se a porta está fechada, a luz apagada, a janela fechada, a gaveta fechada, etc.
  • Repetir ou tocar - muito comum também, uma vez que a própria característica das compulsões é a repetição. Acender e apagar a luz diversas vezes para aliviar a ansiedade da dúvida de ter deixado acesa
33 a 50% das pessoas referem que o início da perturbação ocorreu na infância ou adolescência pelo que é preciso estar atento quando um pequeno grau de obsessões não só se mantém como, diversas vezes, aumenta e domina o dia-a-dia da criança, colocando-a num enorme sofrimento pois, por vezes, o inicio é repentino e muito claro para as pessoas em redor; outras vezes é insidioso e pouco óbvio.

Outro sinal que poderá ser valioso para os pais diz respeito ao rendimento escolar. Este, por norma, tende a diminuir como consequência da menor capacidade de concentração da criança, que se encontra dominada e assaltada por outros pensamentos que não aqueles que dizem respeito à aprendizagem.
Acima de tudo, independentemente das diversas características que a Perturbação Obsessivo-Compulsiva pode ter e apresentar, é fundamental compreender se o bem-estar da criança está a ser posto em causa pois, muitas vezes, a criança, devido às obsessões e/ou compulsões, sofre internamente, muitas vezes de forma silenciosa, e nestes casos é importante procurar ajuda especializada. A intervenção precoce nestes casos pode evitar a consolidação de funcionamentos muito angustiantes para a criança.

É fundamental nunca esquecer que, a infância, apesar de repleta de contos infantis com finais felizes, salas de brinquedos e muita inocência pode, naturalmente, ser contaminada por dúvidas, medos, receios e/ou angústias. Que são válidas e legitimas e que devem ser ouvidas e tratadas para que a criança e os pais consigam dar um nome ao sofrimento que não entendem e reconhecem.

Por Maria de Noronha, Psicóloga Clínica.

segunda-feira, abril 11, 2011

Ser mãe

 
 Artigo publicado IN  REVISTA FOCUS de 28 de Abril de 2010

O conceito de Amor Materno apesar de universalmente reconhecido, surgiu apenas no último terço do séc. XVIII quando se deu uma revolução de mentalidades que conduziu a uma alteração na imagem de mãe, no seu papel e na sua importância.


De acordo com a psicóloga Maria de Jesus Candeias, a partir desta altura começa a considerar-se a criança o objecto de valor privilegiado na atenção materna e insiste-se em que a mulher se sacrifique para a melhor qualidade de vida do seu filho.

Um dos primeiros indicadores de mudança no comportamento da mãe é a amamentação.

Com as mudanças nas vivências familiares que surgem no final do séc. XVIII e durante o séc. XIX com a valorização dos laços afectivos em especial em torno da figura da mãe. “Começou a dar-se um sentido diferente à maternidade, alargada e estendida à vivência da família muito para além dos nove meses de gravidez”.

A Psicanálise dá no séc. XIX um contributo decisivo para a compreensão e promoção do papel fundamental da mãe no desenvolvimento da criança e vem promover a mãe, a grande responsável pela felicidade do seu filho que passará a ser uma grande marca na definição do seu papel, e o quanto esta é importante na construção da personalidade do novo ser.

Como refere Winnicot, psicanalista inglês “ o primeiro espelho da criatura humana é o rosto da mãe, o seu olhar, sorriso, expressões faciais etc” Opinião partilhada por Maria de Jesus Candeias, que afirma que “A relação entre mãe e filho, que se desenvolve e estabelece ainda antes do nascimento, vai moldar o desenvolvimento intelectual e emocional da criança”

A psicóloga reflecte sobre o papel da mãe e afirma que: A relação que se estabelece entre mãe e filho, desde os primeiros momentos de vida será a base da segurança, autoconfiança, auto-estima e capacidade para estabelecer relações ao longo da vida da criança.

E é a partir do reflexo do espelho da mãe que a criança se vai reconhecendo, vai sentir que é amada, e vai passando a existir e construir a sua identidade.

É a mãe pelo seu discurso que vai ensinando a criança a ler e a compreender o mundo à sua volta, ajudando a criança a dar significado aquilo que a rodeia.

É a mãe que por assim dizer trata a informação que o bebé recebe, que a transforma, reduzindo os seus estados de tensão e de mal-estar e facilita a adaptação e o bem-estar do bebé.

É este trabalho mental da mãe de transformação dos estados da criança, de «continente psíquico», que salvaguarda a qualidade das suas primeiras experiências e que são decisivas para o sentimento do “EU”, e indispensáveis para a sua formação e desenvolvimento.

Uma adequada maternagem deve facilitar uma lenta e gradual separação e abrir caminho para a entrada em cena de um pai, passando de uma diade para uma relação a três, passando a criança a reconhecer a existência de terceiros numa relação, ensinando desta forma a criança a socializar-se.

É a mãe a fundadora dos valores e das auto-representações da criança. É ela enquanto primeiro elemento de vinculação, que vai a criança a “ler o mundo à sua volta” e a tornar-se pessoa. A mãe é pois um importante modelo de identificação para o filho.

Porém, não podemos deixar de referir que o amor maternal é algo infinitamente complexo e imperfeito;

O amor Materno depende não só da história pessoal de cada mulher, da oportunidade da gravidez, do seu desejo da criança, da relação com o pai mas também de factores sociais, culturais e profissionais.

Não é raro verificar que «em relação aos filhos, todas as mulheres repetem a história da sua própria relação com a sua mãe ».

Ser mãe é pois um grande desafio. Infelizmente não há receitas para ser mãe! E deixemos de ilusões : não há mães perfeitas!

O Ideal são mães “suficientemente boas” atentas, disponíveis, dispostas a aprender com o próprio filho, disponíveis para pensar a maternidade e romper com repetições geracionais muitas vezes patológicas, e principalmente com grande capacidade de amar!


Artigo publicado na Revista  FOCUS de 28 de Abril de 2010