Em Portugal dorme-se pouco e mal. Por trabalhar directamente com crianças e adolescentes, tenho verificado que surgem cada vez mais casos de crianças que apresentam perturbações do sono. Teresa Paiva (Neurologista) e Helena Rebelo Pinto (Psicóloga) realizaram recentemente um estudo em que concluíram, através de inquéritos, que a maioria das crianças e adolescentes portugueses dormem apenas metade do que necessitam. Ora isto traduz-se numa sonolência diurna que afecta o rendimento escolar e as relações sociais. Por outro lado, diversos estudos indicaram que a más rotinas de sono está associada uma maior probabilidade de diabetes, hipertensão arterial, depressão, insónia e, tal como já foi mencionado anteriormente, insucesso escolar. O facto de dormir menos horas do que se necessita afecta a forma como realizamos a aquisição dos conhecimentos, principalmente os de cariz abstracto; assim poderemos pensar que poderá existir uma relação entre más rotinas de sono e os resultados negativos nos exames nacionais de Matemática .
Quando questionados, alguns jovens referem que dormem o número de horas considerado necessário pois levantam-se perto da hora do almoço ou a meio da tarde. No entanto, é essencial que tenham presente que esse sono não tem a mesma qualidade pois existem hormonas que apenas são segregadas quando estamos a dormir durante a noite, estando isto relacionado com a evolução humana. Infelizmente os conhecimentos teóricos não são suficientes para mudar hábitos, principalmente os de cariz social pois muitos adolescentes têm actividades sociais nocturnas que recusam abandonar com risco de exclusão do círculo social que conhecem. Os horários das discotecas, as mensagens de telemóvel nocturnas gratuitas e a divulgação de informações nas redes sociais como o Facebook promovem este tipo de práticas nocturnas. Por outro lado, os horários laborais dos pais, que levaram a que se jante em Portugal cada vez mais tarde, levaram ao prolongamento do serão. O que poderá ser feito?
Adaptação à nova realidade familiar. Cada familiar deverá procurar encontrar os seus próprios horários, de forma a conciliar as necessidades individuais com as da família, com isto pretendo dizer que considero essencial que sejam respeitados os desejos e as necessidades de cada criança/jovem/adultos e simultaneamente exista uma procura de existirem actividades em família. Procurar concretizar isto na vida do dia-a-dia não é uma tarefa fácil pois as solicitações são diversas mas penso que é importante estabelecer prioridades.
Todos conhecemos crianças que, quando estão com sono, mexem-se mais do que o habitual, choram e fazem as “chamadas de atenção”. Assim, não é de surpreender que o professor, ao ser confrontado com a criança que diariamente vai com sono para a escola e adopte estes comportamentos, considere que estes comportamentos são “habituais”, logo que “fazer parte” da personalidade da criança – assim compreende-se o elevado número de sinalizações, por parte da comunidade docente de “crianças hiperactivas”. Não pretendo com isto afirmar que o número de crianças hiperactivas é exagerado, antes que é necessária uma avaliação correcta. Gostaria ainda de salientar que o número de crianças diagnosticadas com hiperactividade tem aumentado nos últimos anos, existindo muitos factores apontados para isso.
Num artigo divulgado no jornal Público (14/08/2011), Teresa Paiva e Helena Rebelo Pinto referem que os principais objectivos do seu projecto passam por “Divulgar os conhecimentos básicos sobre o sono e a sua relação com a saúde, sensibilizar as crianças e os jovens para a importância de dormir bem e adquirir bons hábitos de sono e preparar os agentes educativos para uma intervenção eficaz na melhoria do sono das crianças e dos adolescentes”.
Julgo que este estudo poderá ser uma mais-valia para a sociedade em geral e para os técnicos de saúde mental em particular pois uma mente cansada dificilmente consegue pensar.
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