"É ATRAVÉS DA VIA EMOCIONAL QUE A CRIANÇA APREENDE O MUNDO EXTERIOR, E SE CONSTRÓI ENQUANTO PESSOA"
João dos Santos

terça-feira, dezembro 17, 2013

A Depressão Infantil




Ninguém está à espera que o seu filho adoeça psicologicamente. Os pais sabem que o mal-estar físico é praticamente uma inevitabilidade, adaptam-se à circunstância de ver os seus filhos com febre, cólicas, dores de dentes ou constipações. Afligem-se quase sempre, assumem que dariam tudo para livrá-las daquele sofrimento, mas sobrevivem. Aprendem a gerir a ansiedade e, de um modo geral, sentem-se mais serenos no papel de cuidadores aquando do nascimento do segundo filho.

Estes episódios de doença física são comuns a quase todas as crianças, pelo que, por maior que seja a angústia dos pais, há sempre alguém experiente por perto que transmite calma e passa a mensagem de que o mal-estar vai passar. Mas nenhum pai ou mãe está à espera que o seu filho adoeça do ponto de vista psicológico, pelo que a depressão nas crianças e jovens é muitas vezes subdiagnosticada

Em muitos casos, em particular em crianças pequenas, os sinais de alerta são pouco claros, na medida em que a depressão se manifesta de forma atípica, confundindo-se facilmente com dificuldades de outra ordem. Noutros casos os sinais estão todos lá mas os adultos ignoram-nos - não por negligência mas porque ninguém está preparado para reconhecer que o seu filho, ainda tão pequenino, possa sofrer de uma doença que nos habituámos a atribuir aos adultos
Se a criança ou adolescente chora por tudo e por nada é mais fácil supor que teve um desgosto amoroso ou está a fazer birras por um motivo fútil qualquer. Se há resistência em ir à escola é porque ele(a) passou a ser preguiçoso(a). Se o filho se mostra incapaz de dormir sozinho e salta para a cama dos adultos é porque é mimado e está com dificuldade em crescer. Se há alterações súbitas de humor e/ou irritabilidade constante é sinal de insolência ou mau-feitio. Se a criança ou adolescente se queixa porque ouve barulhos esquisitos durante a noite é porque está a querer chamar a atenção. Se há alterações do apetite é porque está com a mania das dietas. E por aí fora.

A verdade é que cada pai ou mãe ama demasiado os seus filhos para reconhecer numa fase precoce o aparecimento da doença. De um modo geral, passam-se vários meses (às vezes anos) até que os pais assumam que as dificuldades são reais, não podem ser atribuídas ao desenvolvimento e precisam de ser, pelo menos, avaliadas por alguém clinicamente experiente.

Nem todos os clínicos estarão aptos a reconhecer os sinais de depressão em crianças e adolescentes mas uma avaliação rigorosa - realizada por um psicólogo infantil - permite imediatamente que a família se sinta ajudada e que a luz comece a visualizar-se ao fundo do túnel. 

Depois do diagnóstico podem surgir outros problemas, na medida em que os pais tendem, por um lado, a querer perceber a origem da doença (e isso pode passar por atribuir culpas injustamente), e, por outro, a mostrar grande resistência à intervenção farmacológica. Compete naturalmente ao médico que acompanha a criança esclarecer os pais a respeito das vias mais seguras para promover uma recuperação rápida e sólida aos seus filhos. A ideia de que o próprio filho possa ter adoecido sem que haja qualquer evento traumático identificável associada à necessidade de tomar um antidepressivo é contranatura, assustadora, impactante. 

Mas a verdade é que a depressão é uma doença com origem multifactorial, que nem sempre está associada a uma reacção a um acontecimento específico e que, para ser tratada, depende quase sempre da combinação de medicação antidepressiva com psicoterapia. 

Quando o problema é gerido como em qualquer outra situação de doença, isto é, com informação rigorosa, confiança nos médicos e cumprimento das prescrições, a depressão é tratada e a família readquire o bem-estar.


Por Maria de Jesus Candeias, Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Infantil

segunda-feira, dezembro 09, 2013

Avaliação Psicológica da Criança no âmbito de Regulação das Responsabilidades Parentais


A avaliação psicológica forense no contexto do divórcio e da regulação do exercício das responsabilidades parentais é, na maior parte dos casos, uma tarefa extremamente complexa e exigente para os profissionais envolvidos na tomada de decisão.

O pedido de um relatório forense para avaliação psicológica pode chegar até ao psicólogo através do tribunal, advogado, ou de um dos progenitores.
O processo de avaliação psicológica  para regulação de responsabilidades parentais, baseia-se na observação das dinâmicas familiares o que permite analisar o grau de proximidade, conforto, linguagem corporal e verbal, qualidade da interação e comunicação; avaliação psicológica da criança de forma não invasiva; entrevista clínica aos progenitores; conversar/entrevistar professores e outras figuras significativas. 
Por exemplo, no caso de a mãe ou o pai ou ambos terem uma nova relação ou filhos, estes devem ser incluídos na observação das dinâmicas familiares, pois a criança irá estar em contato com os novos membros e é importante o psicólogo compreender qual o seu papel e como se sente na relação.
O objetivo é o técnico conhecer as dinâmicas familiares, as necessidades e desejos da criança, e quais os pontos fortes e as dificuldades de cada progenitor no envolvimento com a criança. Podendo dar o seu parecer acerca da regulação das responsabilidades parentais e aconselhar os pais se necessário a ter aconselhamento parental e/ou psicoterapia.

É importante que os pais não instruam ou influenciem a criança no que esta deve dizer ao técnico, não lhe criem expectativas do que poderá advir das intervenções, não há necessidade e devem permitir que a criança se sinta livre para se exprimir e ser honesta. 
Independentemente de quem faz o pedido, ambos os progenitores são contactados para participarem na avaliação, e é muito importante para o psicólogo escutar ambas as partes e poder observar a relação destes com os menores.

Um relatório que consista apenas na avaliação de uma das partes perde alguma da sua consistência, mas a recusa da outra parte também poderá ser relevante e dar indicadores ao psicólogo e magistrados.
Os relatórios forenses realizados pelo psicólogo serão elaborados com total imparcialidade, com responsabilidade ética e deontológica por parte do deste, tendo em conta, apenas, o superior interesse do(s) menor(es).
Significa isto, que independentemente de quem nos procura o nosso parecer irá sempre de encontro às necessidades manifestadas pela criança e não dos pais.

A importância dada pelos magistrados ao trabalho pericial forense, concretamente no que concerne à avaliação psicológica dos filhos e progenitores e das dinâmicas familiares, quando estão em causa questões que se prendem com a residência das crianças e com o regime de visitas é fulcral neste processo.

Por Dra. Catarina Policarpo, Psicóloga Clínica, Mediadora Familiar.