"É ATRAVÉS DA VIA EMOCIONAL QUE A CRIANÇA APREENDE O MUNDO EXTERIOR, E SE CONSTRÓI ENQUANTO PESSOA"
João dos Santos

domingo, setembro 09, 2018

A Ansiedade da Entrada na Escola

A Ansiedade da Entrada na Escola - Dos filhos ou dos Pais?

- Como preparar a criança para a entrada na Escola -


A forma como os pais encaram a separação do seu filho é muito importante para a forma como a criança se irá adaptar à escola.

É natural que se sinta ansioso e preocupado em relação a um grande número de questões, nomeadamente questões associadas à relação com os colegas e ao comportamento da professora. No entanto, todas estas questões estão associadas com os próprios receios de separação dos pais! Como se a entrada na escola fosse o iniciar da separação pais-filhos, como uma quebra da ligação especial que até então se manteve. E, para isso, é essencial que os pais enfrentem os seus próprios medos em relação à separação para poderem ajudar os filhos a enfrentarem os deles. Se se mostrar inseguro na despedida, o seu filho poderá pensar que o está a deixar num sítio que não é seguro, em que os próprios pais não confiam.

Se preparar antecipadamente a criança para a separação e para as exigências do jardim infantil ou da escola, tudo se tornara mais fácil:

  1. Fale-lhe de tudo o que sabe acerca do que vai encontrar;
  2. Leve-a lá primeiro para conhecer a professora e a sala de aula. Deve ter em atenção que esta é uma visita da criança e não dos pais. Não aproveite esta visita para tratar de outros assuntos, como por exemplo, da secretaria;
  3. Deixe que nos primeiros dias a criança leve de casa algo especial (um boneco, um urso de peluche, uma fralda, uma fotografia,...);
  4. Quando chegar à escola, apresente-a à professora e leve-a a ver o recreio;
  5. Mostre-lhe que confia na professora. Deverá tratar a educadora pelo nome próprio, transmitindo confiança à criança como se de uma pessoa conhecida se tratasse;
  6. Quando se for embora diga-o à criança. Dê-lhe um beijo de despedida, não muito prolongado e diga-lhe quando voltará. Não chegue atrasada. Depois de se ter despedido vá-se embora e não se volte para trás. Isto irá reduzir a ansiedade da criança;
  7. Quando a for buscar, felicite-a pela maneira como se comportou. Devolva que este foi um grande passo no seu crescimento. Oiça-a contar como foi o seu dia.
É normal que a partida dos pais, nos primeiros dias, seja angustiante para a criança, deixando a dúvida sobre quem irá tomar conta dela. No entanto, à medida que as situações de separação se vão tornando habituais e que a criança percebe que as suas necessidades continuam a ser satisfeitas, que outras pessoas são também capazes de tratar dela, bem como o facto de saber que ao final do dia os pais acabam por regressar, a ansiedade começa a diminuir porque a certeza de que tudo está bem ajuda a tranquilizar os seus sentimentos e deste modo, a sentir-se bem e feliz.

Muitas crianças adaptam-se perfeitamente ao princípio, mas depois em casa mostram sinais de regressão. Podem repetir-se problemas aparentemente não relacionados com a escola, mas ao nível do sono, alimentação ou birras que já haviam sido ultrapassadas. Estas regressões poderão demonstrar o tipo de energia que a criança tem de reunir para enfrentar este novo desafio. Como se estivesse a reunir energias para essa importante adaptação. Ou seja, ao regredir, ela pode voltar a uma fase do seu desenvolvimento, onde obtém o apoio de que necessita por parte dos pais, reorganizando-se.

Nesta fase o papel dos pais será o de apoiarem na compreensão do motivo desses sintomas e de a ajudarem a compreender-se a si própria no seu esforço para vencer os novos desafios que a escola representa. Quando ela começar a ter sucesso, digam-lhe como se sentem orgulhos com isso.

O período de adaptação à escola pode ser difícil. No entanto, deverá lembrar-se que cada criança se adapta segundo o seu próprio ritmo.

A vossa casa deverá ser o vosso porto de abrigo, um local de segurança e afeto. Deixe que o seu filho consiga o equilíbrio, extravasando em casa as tensões provocadas pela escola. Não o pressione para conseguir tudo de uma só vez, dê-lhe tempo. Apoie a sua autoestima – a base é dada em casa. As capacidades específicas e as aquisições académicas virão a seu tempo.

Uma certa dose de recompensa positiva, bem como de elogios, reforça a consciencialização que a criança tem do seu próprio sucesso.

E recorde-se: Uma criança apenderá sempre, desde que se sinta bem consigo própria!

Se tiver alguma dúvida ou precisar de algum tipo de apoio ou aconselhamento, terei todo o gosto em recebê-lo, ou receber-vos, e ajudar-vos nesta caminhada tão desafiante que é a parentalidade.

Dr.ª Sara Loios
Psicóloga Clínica de Crianças, Adolescentes e Famílias
Cédula Profissional nº 20837

terça-feira, junho 05, 2018

O meu filho não me respeita!!!


O que se entende por desrespeitar os pais? Existem limites? Quais?
É comum que, durante a etapa da adolescência, surjam mudanças significativas nas relações familiares. 
Em muitos casos, essas mudanças fazem-se acompanhar de um aumento de conflitos entre pais e filhos.
A adolescência traz consigo a necessidade de questionar, de descobrir, de redirecionar. Passa a haver a necessidade de rever as regras, os valores e até as crenças familiares.  
Um/a filho/a mais instável e irritado/a pode tão somente estar a manifestar, à sua maneira, a necessidade de diferenciação das figuras parentais, em busca da sua própria identidade.
É comum os jovens manifestarem ataques de raiva, isolarem-se em quartos fechados, buscarem apoio nos avós ou começarem a apresentar comportamentos desafiadores ou de risco.

Os adolescentes desafiam o sistema familiar porque essa é a natureza do desenvolvimento, nem sempre se trata de uma questão de desrespeito! 
Famílias com fronteiras mais flexíveis permitem que o adolescente se vá experimentando em diferentes territórios, aproximando-se quando se sente inseguro e afastando-se quando necessita de testar a sua independência.

Se pelo contrário, os pais, são rígidos e inflexíveis,  não vão facilitando  a separação e autonomia do jovem, os jovens começam a usar meios cada vez mais extremos para tentar impor a sua precária autoridade ou para marcar distâncias, incluindo a utilização de violência tanto com os seus irmãos mais novos como com os seus progenitores.
A resposta de que necessitam, por parte dos pais/cuidadores deverá, no entanto, ser promotora do      reequilíbrio emocional. 
A clareza das regras e limites é essencial para assegurar estes 3 grandes pilares da vida do adolescente.

Assim, nesta fase, é fundamental que os pais  apostem  num aumento da flexibilidade das fronteiras e nas forma de expressar a sua  autoridade, de forma a manter a harmonia familiar. È essencial distinguir e não confundir entre os pais como autoridade de pais autoritários.

O respeito e os limites estão ultrapassados quando entramos no campo da violência familiar.
A violência filio-parental, é um tipo de violência familiar e refere-se a comportamentos de violência física (agressões, empurrões, atirar objectos) verbal (insultos repetidos, ameaças) ou não verbal (ameaças de agressão, destruição de objectos apreciados) realizados de maneira repetida em relação a um ou ambos os progenitores, ou aos adultos que ocupam o seu lugar,

Este tipo de violência origina um enorme sofrimento e stress nas famílias, ao mesmo tempo que podem representar o inicio de uma “carreira de agressor” nos jovens que perpetuam este tipo de violência, necessitando por isso de uma resposta específica por parte dos profissionais de saúde mental.

Que tipos de casos entre mau relacionamento entre pais e filhos costuma receber nas suas consultas?
Existem pedidos muito diversos e que vão desde os pequenos conflitos familiares entre pais filhos, pais que não se sentem respeitados e que não conseguem fazer com que os filhos cumpram as suas regras, muitos pais com dificuldades em lidar com s processos de autonomia na adolescência dos seus filhos, aos casos de violência entre pais e filhos e de referir que são cada vez mais frequentes.

Por que muitos pais não conseguem ganhar respeito dos seus filhos? Quais os quadros familiares associados a este tipo de relação?
As dificuldades dos pais em ganharem o respeito dos filhos estão fortemente associadas a  praticas parentais pouco adequadas às necessidades dos filhos.
Os conflitos, os problemas, e a Violência Filio-Parental são resultado de uma interacção disfuncional entre os diferentes membros do sistema familiar em que a psicopatologia aparece como expressão dessa disfuncionalidade. Esta violência tem um sentido e uma função dentro da família que deve ser entendido e decifrado.
Podemos apontar os seguintes factores que favorecem o aparecimento da violência filio parental:

·        Experiência familiar prévia de utilização da violência para resolução de conflitos;
·        Violência familiar generalizada: todos contra todos;
·        Pais não normativos “democráticos”, excessivamente permissivos, que gostam dos seus filhos façam estes o que fizerem;
·   Pais superprotectores por razões diversas: filho muito desejado, tardio, frágil ou adoptado, dispostos a satisfazerem todos os desejos dos seus filhos.
·        Relação “passional”, “fusional” entre um dos progenitores e o filho;
·        Violência prévia dos pais entre si ou sobre o filho;
·        Conflito intenso entre os pais;
·        Triangulação do filho.
·        Pais insatisfeitos com os seus papéis ou verbalizações de que as suas vidas são vazias;
·        Inconsistência e desacordo entre os pais na educação dos filhos;
·        Severidade desproporcionada dos castigos e dos actos dos filhos;
·        Excessivo criticismo e intrusão por parte dos pais;
·        Problemas de hierarquia: pais que renunciam ao seu papel e recusam estabelecerem normas;
A ausência de uma clara definição hierárquica é a principal característica do funcionamento destas famílias. A dificuldade em estabelecer normas e limites são os pontos mais evidentes nestas famílias quando procuram ajuda.

Nestas famílias é frequente encontrarmos situações em que um ou às vezes os dois progenitores, abdicaram do seu papel parental, tendo deixado de se comportar como pais.

Quais são os pensamentos/sentimentos mais comuns nos pais perante este tipo de problema com os filhos?
A vergonha, a sensação de fracasso enquanto pais, a desilusão e o sentimento de impotência face ao problema são sentimentos comuns nestes pais.

Como devem reagir os pais quando os filhos os agridem tanto psicologica e/ou fisicamente?
Quando chegamos a este ponto é muito difícil os pais, por si mesmos, resolverem ou reverterem a situação. Muita coisa se danificou dentro de uns e outros, as formas de relacionamento dentro da família estão “doentes”  e a ajuda profissional nestes casos parece-me essencial.
Porém, importa referir que o uso da força pelos pais, ou a restituição  da ordem ou do respeito pelos mesmos meios (a violência  verbal e física) não é de todo o caminho a seguir.
A resposta de que necessitam, por parte dos pais/cuidadores deverá, no entanto, ser promotora do reequilíbrio emocional. 
O adolescente/criança ainda não é adulto, pelo que necessita de contar ainda com uma família que lhe garanta as necessidades de afecto, de segurança e de estrutura. 
Clarificar e definir regras e limites é essencial para a organização emocional do jovem.
 De referir porém, que com ajuda especializada, estes problemas resolvem-se e a família pode reaprender a viver em harmonia. 

Por que muitos pais suportam ser mal tratados pelos seus filhos?
Nas famílias com Violência Filio-Parental a imagem familiar, tanto dos pais como dos filhos encontra-se detiorada.  A sensação de fracasso dos pais na educação dos filhos, a vergonha que implica ser agredido por um filho, impõe a necessidade de protecção da imagem familiar, o que faz com que as famílias afectadas muitas vezes subestimem a agressão e minimizem os seus efeitos, mesmo quando são públicos e evidentes. A deterioração da situação familiar faz com que a família adopte comportamentos de forma a apresentar uma imagem oposta, potenciando assim o Mito da Paz e da Harmonia Familiar, muito frequente nestas famílias, mesmo quando no exterior já se sabe. Para ocultar o que está acontecendo vai-se construindo um segredo familiar: começa a evitar-se determinados temas, a deixar de falar de situações e comportamentos que poderão por em causa o Mito.
A negação da violência filio-parental , por parte dos pais,  é praticamente uma norma e pode chegar a extremos graves: toleram-se níveis elevados de agressividade durante um período prolongado de tempo antes de se tomarem medidas .

Existem muitos filhos que culpam os seus pais pela falta de sucesso na sua vida e consideram que é obrigação dos pais ajudá-los incondicionalmente. Como devem os pais contrariar esta pressão dos filhos?
Os filhos pedem… cabe aos pais dizer tranquilamente, sem culpas, que não podem! Os filhos fazem pressão, quando sabem que ao fim de algum tempo de pressão conseguem alcançar os seus objectivos. Quando perceberem quer não conseguem nada com pressão, acabam por abandonar essa estratégia. Assim sendo, a consistência e coerência das regras, pelos pais é fundamental! Não podem dizer que não a algo, e depois sim, sem nenhuma razão justificativa para essa mudança de opinião. E não devem sentir-se culpados por dizer não aos filhos! Os pais podem até não ter feito tudo como deviam, mas fizeram aquilo que sabiam e acharam melhor, mas a partir de certa altura são os filhos, agora jovens adultos, que passam a ser responsáveis por si próprios.
A culpa que os pais  possam eventualmente ter, por ter falhado algures, podem admiti-la, mas com a consciência de que não a podem corrigir porque o tempo não volta atrás, e principalmente que não têm de continuar a pagar essa culpa sob  chantagem e  cedências à pressão dos filhos.

A incapacidade de pais e filhos comunicarem, ou porque não falam a mesma linguagem, ou porque não respeitam as crenças uns dos outros, entre outros, podem algum dia ser ultrapassados?
Sim, sem dúvida que se podem ultrapassar essas diferenças. A terapia familiar é fundamental no restabelecimento da harmonia familiar. Numa família, não têm de pensar todos o mesmo, mas têm sobretudo de falar a mesma língua: a do respeito e admiração pela individualidade de cada um.
Entrevista cedida por Maria de Jesus Candeias, Psicóloga clínica e Psicoterapeuta, para o Portal Sapo Saúde , Setembro 2015

sexta-feira, maio 18, 2018

O Desenvolvimento Infantil


Perturbações do Neurodesenvolvimento


Por neurodesenvolvimento infantil podemos entender o conjunto de patologias que se manifestam por alterações no desenvolvimento e/ou comportamento e que tipicamente surgem nos primeiros anos de vida da criança. É essencialmente o conjunto de competências através das quais a criança interage com o meio que a rodeia, de acordo com vários indicadores, como a idade, fatores biológicos, estímulos ambientais, entre outros.

Compreende um conjunto de diferentes áreas, tais como:
  •          Sensoriais (audição e visão)
  •          Motoras (motricidade)
  •          Cognitivas
  •         Comunicativas (Comunicação, linguagem e fala)
  •          Funcionais (Autonomia)
  •          Sociais (Socialização e Comunicação Social)
  •          Académicas (Leitura, Escrita e Cálculo)
  •          Comportamentais
  •          Sociais.

As etapas do desenvolvimento infantil ocorrem em idades específicas, ou seja, é possível identificar uma idade média para a sua aquisição. Sendo a idade estimada de acordo com a média, é perfeitamente natural se existir uma certa variabilidade na aquisição destas etapas, que pode corresponder até um certo desvio padrão da média. É, por este motivo, muito importante que os pais tenham conhecimento das idades estimadas para as várias aquisições das crianças, permitindo que possam estar alerta para a deteção atempada de possíveis alterações.

É exatamente quando surgem estas ditas alterações, ou seja, défices no desenvolvimento típico da criança e que condicionam o seu funcionamento em todos os seus contextos - pessoal, social, académico e ocupacional - que estamos perante alguma forma de perturbação do neurodesenvolvimento.

A sua origem é multifatorial, estando implicados no seu aparecimento fatores genéticos, biológicos e fatores ambientais. Como o sucesso da intervenção está diretamente associado à precocidade do diagnóstico, assim como à escolha da metodologia de intervenção que melhor se adequa à criança e à família, é fundamental que se esteja atento aos sinais de alerta.

As principais perturbações do neurodesenvolvimento:

1.   Perturbação do Desenvolvimento Intelectual – Carateriza-se por défices existentes nas capacidades intelectuais (raciocínio, planeamento, resolução de problemas, pensamento abstrato, aprendizagem académica). Estes défices têm um forte impacto no funcionamento adaptativo da criança, podendo impedir que atinjam os padrões de autonomia, independência pessoal e responsabilidade social, num ou mais aspetos da vida diária, ao longo do seu futuro.

2. Perturbações da Comunicação– Correspondem a alterações na linguagem, fala e comunicação. O surgimento das primeiras palavras e frases da criança estará provavelmente atrasado; o vocabulário será menor e menos variado do que o esperado, sendo que os sintomas ocorrem no inicio do período de desenvolvimento.

3.   Perturbações do Espectro do Autismo – Diz respeito a alterações que surgem em idade muito precoce da vida da criança, em áreas como a socialização, comunicação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. As manifestações da perturbação variam dependendo da gravidade da condição autística, nível de desenvolvimento, e idade cronológica, o que nos remete para o termo espectro.

4.   Perturbação de Défice de Atenção e Hiperatividade (PDAH) – Esta perturbação surge geralmente em idade escolar. O seu diagnóstico é determinado por um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere com o funcionamento e desenvolvimento da criança, nomeadamente a nível académico e social.

5.   Perturbação Específica da Aprendizagem – Diz respeito a dificuldades que existem na criança para fazer a sua aprendizagem escolar. É um diagnóstico que é feito em idade escolar e é importante especificar o tipo de perturbação existente: défice na leitura, na escrita e/ou matemática.

6.     Perturbações Motoras – Estão incluídas nas Perturbações do Neurodesenvolvimento Motor, a perturbação do desenvolvimento da coordenação (alterações na coordenação motora com interferência significativa e persistente na vida diária e que estão abaixo do esperado para a idade), a perturbação de movimentos estereotipados (presença de comportamentos repetitivos, impulsivos e sem objetivo (balançar o corpo, agitar as mãos...) que perturbam o desempenho da criança) e a perturbação de tiques.

As Perturbações do Neurodesenvolvimento podem manter-se ou sofrer alterações ao longo do tempo, podendo aproximar-se ou distanciar-se das etapas do desenvolvimento esperadas para a idade cronológica da criança, bem como associarem-se a outras perturbações. É de facto bastante frequente a presença de dois ou mais diagnósticos na mesma criança sendo a comorbilidade em Neurodesenvolvimento mais uma regra que uma exceção.

Em relação ao diagnóstico, é de extrema importância a sua precocidade para que se estabeleça um plano de intervenção específico e adequado a cada criança e à família. Se tem dúvidas em relação ao processo de desenvolvimento do seu filho, entre em contacte connosco.

Sabia que as perturbações do neurodesenvolvimento constituem a perturbação mais frequente em idade pediátrica, devido, entre outros motivos, ao aumento da consciência dos pais para a existência desta patologia?

Dr.ª Sara Loios
Psicóloga Clínica de Crianças, Adolescentes e Famílias
Cédula Profissional nº 20837

segunda-feira, março 26, 2018

Novas Parcerias


O CRESCER – Centro de Psicologia da Família, Criança e Adolescente - tem vindo a desenvolver o seu trabalho em parceria com diversas entidades e organizações, através do estabelecimento de protocolos extremamente vantajosos para os associados e colaboradores, proporcionando-lhes descontos significativos, promovendo uma maior acessibilidade a diversos serviços na área da Psicologia.
É com bastante entusiasmo que partilhamos as mais recentes parcerias:













              Pumpkin.pt                                                                       Clube Millennium BCP




Titulares do Cartão do Colégio Campo de Flores



Informamos também que estamos disponíveis para receber clientes através do protocolo estabelecido entre a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) e a Ageas Seguros, o qual permite que os Clientes Ageas Seguros passem a ter acesso a consultas de psicologia comparticipadas pelos seus seguros de saúde, desde que contratada a respectiva cobertura. Para mais informações relacionadas com este protocolo contactar psicologos@sabseg.pt.





Para mais informações ou marcações, contacte-nos:

📲 915139629

📧 crescerpsicologiainfantil@gmail.com

quinta-feira, março 01, 2018

As Crianças e a AutoEstima


- O Segredo das Crianças Felizes - 


Na sociedade em que vivemos é predominante um discurso de crítica negativa e de punição, de desvalorização da recompensa e do elogio (quer o elogio a nós próprios, quer aos outros).

Os exemplos seguintes são situações e verbalizações por vezes tidas pelos pais e cuidadores, as quais podem magoar ou entristecer as crianças:
  1. Criticar constantemente as crianças em frente a outras pessoas, quer sejam outras crianças ou adultos (“Pareces mesmo um palerma... já te disse que não é assim que se faz...”);
  2. Contar os segredos das crianças a outras pessoas, de uma forma que as faça sentirem-se humilhadas (“Sabiam que ele ainda faz xixi na cama?”);
  3. Pedir com insistência às crianças para desempenharem um determinado papel perante os outros (“Anda lá, canta aquela música que cantaste há bocado, para a avó ouvir!”);
  4. Esquecer os nomes dos amigos das crianças, ou confundi-los;
  5. Estar sempre a colocar perguntar de uma forma crítica e negativa (“Já arrumaste os brinquedos, ou não é para hoje?”“Vais chorar outra vez porque tens que ir dormir, como fizeste ontem?”);
  6. Criticar as brincadeiras da criança (“Não sei como é que gostas de jogar esse jogo, que brincadeira mais tonta...”);
  7. Desvalorizar ou não compreender os medos das crianças (“Tens medo do escuro, mas porquê? Se o escuro não faz mal a ninguém...”).
Neste sentido, e de forma a colmatar esta realidade e preparar as crianças para o futuro, torna-se extremamente importante a utilização do elogio e da expressão de sentimentos positivos na educação, para que a criança sinta que é amada e valorizada, e assim aprenda a gostar de si própria.

Algumas sugestões de comportamentos que pode adotar de forma a promover a autoestima dos seus filhos:
  1. Brinque com o seu filho e deixe que seja ele a orientar a brincadeira;
  2. Demonstre interesse e orgulho pelas conquistas que o seu filho vai alcançando;
  3. Evite fazer comparações entre o seu filho e outras crianças, seja o irmão/irmã ou outro colega;
  4. Perante situações de insucesso ou mau comportamento, opte por criticar a ação e não a criança. Por exemplo em vez de dizer “portaste-te mal, não gosto mais de ti”, opte por dizer “portaste-te mal, esse comportamento é muito feio”;
  5. Elogie as capacidades do seu filho em frente de pessoas significativas para ele.
A forma como a criança se define, ou seja, a sua autoestima, irá influenciar as suas motivações, atitudes e comportamentos, afetando o seu equilíbrio emocionalUma autoestima positiva, além de desempenhar um papel muito importante na nossa felicidade, protege-nos contra os insucessos na medida em que uma pessoa com uma autoestima positiva irá ter menos tendência a desvalorizar-se face a um desempenho menos bom em alguma tarefa. Além do mais, uma criança com uma imagem positiva de si própria, acredita nas suas capacidades e competências, evitando deste modo ansiedades em relação ao desconhecido.

Crescer não é fácil. Nem para os filhos, nem para os pais ou cuidadores. É perfeitamente natural que possa sentir dificuldades na desafiante tarefa que é educar os seus filhos. Se tiver alguma dúvida ou precisar de algum tipo de apoio ou aconselhamento, contacte-nos. O Aconselhamento Familiar é um tipo de intervenção que visa apoiar e facilitar o funcionamento familiar,  procurando fornecer metodologias e estratégias facilitadoras da tarefa educativa, com o objetivo de diminuir as dificuldades e melhorar o bem-estar da criança ou adolescente em ambiente familiar.
Dr.ª Sara Loios

Psicóloga Clínica de Crianças, Adolescentes e Famílias
Cédula Profissional nº 20837

quinta-feira, janeiro 25, 2018

Como sobreviver à própria família?

Acontece, por vezes, que existam dificuldades familiares na resolução dos desafios quotidianos, o que pode levar a que surjam conflitos entre os vários membros. Quando esta situação acontece, torna-se importante consultar um profissional para que se evite um agravar da situação. Pode até pensar que com o tempo a situação acabará por acalmar, no entanto, se o problema de base não for corretamente resolvido, mais tarde, o problema acaba por surgir novamente. 

Para se compreender o funcionamento de uma determinada família, devemos ter em consideração que vários foram e são os desafios que esta enfrenta ao longo do seu desenvolvimento. E será, essencialmente, a forma como cada família resolve e enfrenta estes mesmos desafios que irá permitir o seu crescimento e adaptação.

Quando em contexto de consulta uma família nos traz um determinado problema, vários são os pontos aos quais devemos ter atenção, nomeadamente a forma como ocorre a comunicação entre os seus membros, a vinculação, a intimidade e muito importante, os limites que existem entre as diferentes hierarquias de uma família. Essencialmente, o que caracteriza e delimita estas hierarquias são os papéis, funções, normas e estatutos desempenhados por cada elemento - numa família podemos encontrar fundamentalmente quatro pequenos grupos: Individual; Conjugal; Parental e Fraternal.

Em primeiro lugar, antes de membro de uma família, todos nós somos pessoas! Pessoas individuais com papéis e funções nos vários contextos por onde vamos passando no nosso dia-a-dia. Somos o aluno, o trabalhador, o amigo, o colega de trabalho… e obviamente que aquilo que somos em determinado contexto influencia de forma dinâmica todos os outros pelos quais vamos passando.

Num segundo momento temos o casal, composto por marido e mulher. O apoio e a adaptação entre os dois são aspetos essenciais ao seu bom funcionamento. Uma das funções do casal em relação à restante família é exatamente o desenvolvimento de limites e fronteiras que protejam o casal da intrusão de outros elementos (p.e. família de origem de cada um dos elementos do casal ou os filhos).

Num momento posterior, surgem então os Pais! Neste momento o casal começa a assumir funções executivas como a educação e proteção dos seus filhos. É a partir das interações pais-filhos que as crianças aprendem o sentido de autoridade, a forma de negociar e de lidar com o conflito no contexto de uma relação vertical. Embora composto habitualmente pelas mesmas pessoas, importa termos presente que antes de ser pai e mãe, o casal é composto pelo marido e pela mulher e dai a importância do estabelecer de limites entre estas hierarquias.

No final da hierarquia, temos os filhos/irmãos. Este pode ser considerado um lugar de socialização e de experimentação de papéis. É neste contexto que as crianças desenvolvem as suas capacidades relacionais, experimentando o apoio mútuo, a competição, o conflito e a negociação.

O facto de cada uma das hierarquias ter funções diferentes, mas ao mesmo tempo se encontrarem intimamente relacionadas, torna essencial que se encontrem definidos limites/fronteiras claras entre elas, como se de linhas divisórias se tratasse. Estes limites são, no fundo, regras que definem quem participa em cada hierarquia e como o faz, tendo como objetivo proteger a diferenciação dos seus membros.

No fundo, evitar que surjam crianças com poder sobre os pais ou até mesmo sobre os irmãos, alianças entre crianças e um dos elementos paternos contra o outro elemento. Pais que desviam sempre o conflito com os filhos para o parceiro, relações excessivas entre um dos pais com os filhos, elementos da família sem qualquer tipo de individualidade, sem espaço para si, influenciando de forma negativa todo o seu comportamento e forma de estar. Todas estas situações são pequenos exemplos de como os limites não se encontram bem definidos entre as hierarquias.

É muito importante que cada um saiba qual o seu papel, tarefas e sobretudo, até onde pode ir. O casal deverá manter um espaço seu, diferente do espaço que tem enquanto pais. A negociação de todas as questões associadas à educação dos filhos deverá ser tida sempre enquanto pais e não enquanto casal.

A maior parte dos conflitos e dificuldades que vão surgido nas famílias encontram-se muitas vezes relacionadas com a fusão destes limites. A família acaba por não ter recursos suficientes para identificar o foco do problema e neste caso, torna-se importante recorrer a ajuda especializada no sentido de reencontrar o equilíbrio familiar, através da Terapia Familiar.

É na família que as crianças aprendem a interagir, podendo-se considerar um espaço onde começam por viver relações afetivas profundas, constituindo-se deste modo uma importante base da vida social. 

Dr.ª Sara Loios
Psicóloga Clínica de Crianças, Adolescentes e Famílias
Cédula Profissional nº 020837

segunda-feira, janeiro 22, 2018

As Crianças precisam de Regras para Crescer

Tal como num jogo, as regras são muito importantes em todos os aspetos da nossa vida. 

São elas que nos orientam ao longo dos vários caminhos que fomos e vamos escolhendo, ou seja, o que devemos ou não fazer, o que está certo ou errado.

É importante que os adultos enquanto pais e cuidadores reflitam sobre as regras que têm de cumprir no seu dia-a-dia e pensem no que poderia acontecer se vivêssemos num mundo sem regras e sem consequências.

Muitas vezes são as regras que definem aquilo que temos de cumprir e vão dando pistas para que cada um de nós saiba o que tem de fazer para encontrar o melhor caminho para si.

As regras são a base da disciplina, são elas que orientam a criança para que esta perceba o que se pode ou não fazer quando convivemos com os outros em sociedade, que lhe vão ensinando o que está certo e errado, e moldando o seu comportamento para que não ocorram muitas tempestades no percurso.

As estratégias a que os pais recorrem para controlar os comportamentos das crianças, podem promover ou limitar as suas capacidades de autonomia, sendo por isso essencial que não recorra a ameaças, comentários hostis, castigos severos ou gozo. Quando os pais utilizam essas estratégias, as crianças tornam-se mais dependentes e agressivas.

Para que as crianças se possam orientar é preciso que estas regras lhes sejam apresentadas segundo a regra dos 3 c’s:
Claras, bem definidas e simples (a criança deve conseguir perceber claramente o que se espera dela, que comportamentos pode ou não ter);
Constantes (não podem andar sempre a mudar);
Coerentes (devem ser aplicadas nas alturas para que estão definidas. Não devem ser aplicadas à toa, uma vezes sim e outras não, pois assim a criança não sabe o que tem de fazer. Uma vez que começamos temos que ir até ao fim e não podemos ceder).

Os adultos são responsáveis pela orientação na construção destas regras, e são eles que as vão lembrando à criança até que esta, à medida que cresce as vai aprendendo e interiorizando (até que não necessite que ninguém lhe lembre as regras). A consistência das suas respostas e a disponibilidade para ensinar a criança a gerir contrariedades vão facilitar a aprendizagem da expressão de emoções nas situações de frustração e, consequentemente a resolvê-las da forma mais adequada.

Além disso, as regras devem ser justas para que as crianças as acatem e percebam, e formuladas de forma positiva. É muito importante definir as regras de acordo com os valores da família, adaptando-as também à personalidade da criança. 

As regras não representam uma espécie de “código penal”, em que o incumprimento leva obrigatoriamente a uma punição, mas são os pais a decidir, com moderação, cada caso e as suas exceções. Algumas regras podem ser mais flexíveis, outras não, como cumprir o horário de fazer os trabalhos de casa e da hora de deitar.

Com regras firmes as crianças irão saber até onde podem ir, o que não significa obviamente que não tentem quebrar as regras e esticar os limites. No entanto, se houver dias em que o deixa fazer qualquer coisa e outros em que não deixa, ou, se primeiro diz que não e quando ele insiste muda de ideias, e diz que sim, está a baralhá-lo e ele ficará sem perceber aquilo que é aceitável.

Se pensarmos na nossa vida em geral, torna-se muito mais fácil cumprir uma regra quando tenhamos tido espaço para ser ouvidos e darmos a nossa opinião. Com as crianças é a mesma coisa. Sem perder a autoridade ou fazer muitas cedências, tente manter alguma flexibilidade, pedido à criança a sua opinião sobre qual o caminho certo a seguir. 

Por isso pode ser importante construírem as regras em conjunto e negociá-las, dando cada um a sua opinião. Para além de a envolver e fomentar a sua independência, torna a imposição de limites menos “pesada”, sendo a negociação a forma mais fácil de fazer com que as crianças aprendam a respeitar as regras. No entanto, nalgumas coisas têm mesmo de ser os pais a indicar o melhor caminho, a definir o que se pode ou não fazer, a definirem e imporem limites.


Nunca se esqueçam que é essencial dizer que não e colocar limites às crianças. A ausência de regras e limites poderá ser muito prejudicial ao bem-estar dos vossos filhos pois as crianças precisam de orientação para poder desenvolver a capacidade de exprimir e lidar com as emoções de forma adequada, o que lhe dá a capacidade de cooperar com os outros, lidar com a frustração e resolver conflitos.

Os problemas de comportamento surgem quando as atitudes inadequadas são permitidas, ultrapassando a fronteira do respeito e a hierarquia familiar. 

Tolerar comportamentos inadequados ou recear corrigir/castigar determinado comportamento ao pensar que a criança pode ficar traumatizada apenas dá poder ao surgir desse comportamento.

Quando a presença de um comportamento considerado difícil de lidar para os pais for tão frequente que começa a interferir com uma relação saudável pais-filhos, aconselha-se a procura de ajuda especializada onde o psicólogo pode ajudar a família a encontrar outras formas de funcionamento que promovam a modificação desses comportamentos. 

Em suma, um ambiente familiar estruturado, onde a criança sabe que existem limites e o que esperam do seu comportamento, recebendo simultaneamente carinho, amor e compreensão, facilita a aprendizagem das normas sociais e ajuda a sentir-se segura. 

Dra. Sara Lóios

Psicóloga Clínica de Crianças, Adolescentes e Famílias