"É ATRAVÉS DA VIA EMOCIONAL QUE A CRIANÇA APREENDE O MUNDO EXTERIOR, E SE CONSTRÓI ENQUANTO PESSOA"
João dos Santos

quinta-feira, outubro 09, 2014

Avaliação Psicológica da Criança no âmbito de Regulação de Responsabilidades Parentais


A avaliação psicológica forense no contexto do divórcio e da regulação do exercício das responsabilidades parentais é, na maior parte dos casos, uma tarefa extremamente complexa e exigente para os profissionais envolvidos na tomada de decisão.

O pedido de um relatório forense para avaliação psicológica pode chegar até ao psicólogo através do tribunal, advogado, ou de um dos progenitores.~

O processo de avaliação psicológica  para regulação de responsabilidades parentais, baseia-se na observação das dinâmicas familiares o que permite analisar o grau de proximidade, conforto, linguagem corporal e verbal, qualidade da interação e comunicação; avaliação psicológica da criança de forma não invasiva; entrevista clínica aos progenitores; conversar/entrevistar professores e outras figuras significativas. 

Por exemplo, no caso de a mãe ou o pai ou ambos terem uma nova relação ou filhos, estes devem ser incluídos na observação das dinâmicas familiares, pois a criança irá estar em contato com os novos membros e é importante o psicólogo compreender qual o seu papel e como se sente na relação.

O objetivo é o técnico conhecer as dinâmicas familiares, as necessidades e desejos da criança, e quais os pontos fortes e as dificuldades de cada progenitor no envolvimento com a criança. Podendo dar o seu parecer acerca da regulação das responsabilidades parentais e aconselhar os pais se necessário a ter aconselhamento parental e/ou psicoterapia.

É importante que os pais não instruam ou influenciem a criança no que esta deve dizer ao técnico, não lhe criem expectativas do que poderá advir das intervenções, não há necessidade e devem permitir que a criança se sinta livre para se exprimir e ser honesta. 
Independentemente de quem faz o pedido, ambos os progenitores são contactados para participarem na avaliação, e é muito importante para o psicólogo escutar ambas as partes e poder observar a relação destes com os menores.

Um relatório que consista apenas na avaliação de uma das partes perde alguma da sua consistência, mas a recusa da outra parte também poderá ser relevante e dar indicadores ao psicólogo e magistrados.
Os relatórios forenses realizados pelo psicólogo serão elaborados com total imparcialidade, com responsabilidade ética e deontológica por parte do deste, tendo em conta, apenas, o superior interesse do(s) menor(es).
Significa isto, que independentemente de quem nos procura o nosso parecer irá sempre de encontro às necessidades manifestadas pela criança e não dos pais.

A importância dada pelos magistrados ao trabalho pericial forense, concretamente no que concerne à avaliação psicológica dos filhos e progenitores e das dinâmicas familiares, quando estão em causa questões que se prendem com a residência das crianças e com o regime de visitas é fulcral neste processo.

Por Dra. Catarina Policarpo, Psicóloga Clínica, Mediadora Familiar.

sábado, setembro 27, 2014

O medo de ir para a escola: Fobia escolar?


O Início do ano lectivo está aí e o retorno ou a entrada na escola nem sempre é calma e tranquila para todas as crianças.

Há sempre algum nervosimo e ansiedade no retorno, pode mesmo para alguns atingir niveis muito elevados de ansiedade e angustia com uma recusa total à escola: a Fobia escolar

A Fobia escolar afecta, cerca de 5% de crianças do jardim de infância, e cerca de 2% de crianças do ensino básico registando-se uma maior incidência de fobia escolar no primeiro ano lectivo da criança.


No entanto não é raro que a fobia escolar apareça no, 2º ciclo, ou secundário ou até mesmo na entrada da faculdade, pois como referido estas manifestações estão muito associadas a “ansiedade face ao desconhecido” e as mudanças de ciclo escolar, são sempre algo muito significativas para a criança e /ou adolescente.


O que caracteriza uma fobia escolar? 


A Fobia escolar é um medo exacerbado que a criança sente em ir para a escola.
A Fobia escolar é uma perturbaçao da ansiedade e tem tratamento.

Numa situação típica de fobia escolar, a criança/jovem logo de manhã acorda com queixumes de dor de barriga associado por vezes a vómitos, diarreias, dor de cabeça, com intensificação do sintoma à medida que se aproxima a hora de ir para a escola, com verbalização do tipo “…não quero ir para a escola…” ou por vezes na véspera poderá surgir a questão “…amanhã é dia de ir para a escola?...” Despertando nos próprios pais alguma ansiedade na busca de melhor lidar com a situação e não deitar tudo a perder.

Na Fobia escolar da criança está, quase sempre, latente uma grande “ansiedade de separação” dos seus pais e do mundo que lhe é familiar e no qual se sente protegido.
Estas crianças geralmente, apresentam também, dificuldades em dormir sozinhas, medo de ir para casa de amigos, entre outras relutâncias em se distanciar das pessoas com as quais passa a maior parte do tempo.

Esta fobia escolar ou recusa ansiosa escolar é mais frequente no primeiro ano lectivo da vida da criança. Na fobia escolar, a criança fala da escola sempre com medo, negativismo e pode chorar para não ir.

Até se transformar na ‘segunda casa’, a escola representa um mundo desconhecido. Por isso, nos primeiros dias de aula, os sintomas podem ser mais intensos porque a criança se vê às cinco minutos parece uma eternidade.

Na escola, é muito comum, que a criança se afaste dos colegas, se isole, não brinque, já que se sente muito mal lá dentro.

Além da manifestação explícita de não querer ir à escola, a fobia escolar pode atingir sintomas tais como :choro frequente, suores frios ou tremores, diarreia, vómitos, medo de ficar sozinha, medo de algo abstracto, incapacidade de enfrentar o problema sozinha, perda do apetite, voltar a urinar na cama, insónias, pesadelos, entre outros.

A fobia é um problema que difere completamente de preguiça ou má vontade, e do absentismo. Os próprios pais percebem isso no comportamento da criança. Também é diferente da recusa esporádica em ir à escola, especialmente após as férias.

No caso da fobia, as crianças regressam a casa, apresentam ansiedade com sintomas psicossomáticos, enquanto que os absentistas não vão para casa, não sentem ansiedade, nem sintomas. Enquanto que nas fobias as crianças têm um perfil caracterizado por serem conscienciosas, perfeccionistas e bem comportadas, nos absentistas manifestam comportamentos desajustados ou delinquentes. Esta distinção é importante que seja feita, para um modo de abordar e intervir adequado pelos próprios pais.

Geralmente, as crianças que desenvolvem essa ansiedade e medo incontroláveis são boas alunas e não perdem rendimento escolar.

Quando o problema surge é essencial que a equipa da escola saiba o que está acontecendo, pois, muitas vezes, uma figura de confiança do aluno deve acompanhá-lo e permanecer por um determinado período no ambiente escolar, até que ele desenvolva autoconfiança. Os próprios coordenadores podem, por vezes, desempenhar este papel, ao ficarem mais próximos deste aluno, encorajando-o a ponto de se sentir bem na sala de aula.

O que pode estar na origem deste tipo de fobia?
Os motivos que levam a criança a desenvolver fobia escolar podem ser vários ou uma associação deles. Dentre eles estão a predisposição biológica (genética), a mudança de escola, professor severo, conflito com colegas, o temperamento da criança, a vulnerabilidade à acção do ambiente familiar( mudança de casa, divórcio dos pais, morte de um familiar, conflitos familiares), e até mesmo a preocupação excessiva de alguns pais com a separação dos seus filhos.

Os sintomas da fobia escolar estão fortemente associados ao tipo de relação da criança com seus pais, desde o nascimento até a idade pré-escolar.

Porém, é interessante salientar que duas ou mais crianças que recebem a mesma educação, tanto escolar quanto familiar, (filhas dos mesmos pais), não significa necessariamente que todas irão desenvolver fobia escolar.

A fobia escolar também pode ter origem em agressões verbais ou físicas de que a criança foi vítima na escola ( ou seja, ser vítima de bullying).

Em que é que difere de uma ansiedade normal no regresso às aulas?

O primeiro ou primeiros dias desencadeiam naturalmente algum nervosismo, perante a ideia de novos professores, nova turma, nova escola ou simplesmente a mudança de rotina das férias para as aulas, até os mais calmos poderão ficar afectados nas primeiras semanas de aulas.

Outros casos existem em que a ansiedade normal pode dar lugar a medos mais significativos. As fobias ocorrem com frequência nas crianças e por vezes desaparecem espontaneamente, sinal que a criança conseguiu ultrapassar os seus receios.
No caso específico da fobia escolar, enquanto perturbação emocional que desencadeia uma resposta fóbica face à escola, inicialmente não deverá ser motivo de alarme, de um modo tranquilo os pais deverão sempre incentivar e encarar com optimismo a hora de ir para a escola, sem forçar bruscamente mas persistir no cumprimento da assiduidade escolar.
Caso este comportamento persista para além de dois meses, será importante procurar outro tipo de suporte de modo a evitar o agravamento da situação, mesmo na futura vida escolar e social da criança/jovem.

O que podem os pais fazer para ajudar os filhos com fobia escolar?
È muito importante que os pais, não ridicularizarem ou subestimem os medos da criança, pelo contrário, devem mostrar compreensão.

Porém, também devem facilitar que a criança se afaste da escola. No momento de ir para escola os pais devem ser firmes, mas respeitar a limitação de seus filhos, pois para eles já é muito difícil estar com esta dificuldade.

È importante Incentivar a criança a ir à escola, nunca obrigá-la e tentar tranquilizá-la, que no fim do dia volta a estar com os pais. Por vezes os pais poderão mesmo ter de permanecer durante alguns periodos na escoal para ajudar a criança a tranquilizar-se.
Manter o máximo de diálogo com a criança
Ajudar a criança a encontrar o meio de superar o obstáculo
Fazer com que os amigos sejam elementos importantes na inserção na escola.

Se os sintomas persistirem para além de dois meses, e em casos mais críticos, os pais devem encaminhar o filho para psicoterapia.O tratamento da criança com fobia escolar deve ser abrangente: é necessária a participação efectiva da escola, dos pais e do psicólogo. Essa interacção, entre todos e esse envolvimento é que vão fazer com que a criança supere a fobia.

É fundamental que os pais fiquem atentos quanto à procura de profissionais especializados ( psicólogos ou psicoterapeutas) dado que esta fobia pode ocasionar um afastamento da escola, fracasso e repetência escolar, vergonha de enfrentar novamente os colegas, entre outros factores.


Todos estas consequências reduzem a auto-estima da criança, com consequências para o resto de sua vida. Além disso, a tendência de uma criança com fobia escolar, se não for ajudada a ultrapassar a situação, é que desenvolva outros medos, como, por exemplo, de elevador, animais, escuro, etc. Enfim, os danos são grandes quando se adia o tratamento.



Procurar ajuda, ouvir as diretrizes dos profissionais envolvidos e poder dividir as dificuldades que possam encontrar no tratamento de seu filho, contribuirá efetivamente na maravilhosa tarefa de ser pai e mãe e no desenvolvimento de uma criança feliz.

quarta-feira, setembro 24, 2014

MÃE, PAI, VÊM BRINCAR COMIGO? A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR E DO ENVOLVIMENTO DOS PAIS

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR E DO ENVOLVIMENTO DOS PAIS

Desperta os teus sentidos
 para que não percas
 tudo de belo e formoso
 que te cerca.
 Apaga a cinza da tua vida
e acende as cores
que carregas dentro de ti.

Pablo Picasso


É recente a importância que se dá ao brincar na infância. Só na segunda metade do sec. XX, este tema começou a despertar interesse particularmente junto de investigadores e pediatras, que se aperceberam da importância do brincar no desenvolvimento social, emocional e cognitivo da criança.

Vygotsky  refere-se à brincadeira como um modo de expressão e apropriação, pela criança, do mundo das relações, das atividades e dos papéis dos adultos. 

A capacidade para imaginar, fazer planos, apropriar-se de novos conhecimentos surge, nas crianças, através do brincar. A criança, por intermédio da brincadeira, das atividades lúdicas, atua, mesmo que simbolicamente, nas diferentes situações vividas pelo ser humano, reelaborando sentimentos, conhecimentos, significados e atitudes.

Ou seja, é através do brincar que a criança permite que o seu mundo imaginário se cruze com o seu mundo real, e esta realidade externa permite-lhe desenvolver competências para aprender a estar em família, a lidar com as suas frustrações, a imitar o outro (a representar, no fundo um papel de mãe, pai, animal, bombeiro, batman, etc) e a amadurecer no seu desenvolvimento social. Por exemplo, quando uma menina vê a sua mãe a embalar o irmão, ela irá reproduzir este padrão de comportamento nas suas brincadeiras, aprendendo assim competências enquanto futura mãe. Significa, pois, que não é propriamente o objeto que importa, mas a relação que a criança estabelece com ele, a experiência que cria, aquilo em que a sua imaginação o transforma.  
Recordando a nossa infância, todos nós idealizamos o que gostaríamos de ser quando fossemos “grandes” (bombeiros, professores, médicos, bailarinas, etc).  Era ao colocarmo-nos nestes papéis, que nos preparávamos para entrar no mundo dos adultos. Devemos permitir hoje que as nossas crianças tenham a mesma sorte, deixando-as conduzir as brincadeiras, ser espontâneas, criativas e, como pais, entrar no seu imaginário e atuar como personagens.
Vemos nos dias de hoje, os pais preocuparem-se muito se os filhos estudaram ou não, mas são raros os que se inquietam se os filhos brincam sem perceberem que nenhuma criança pode ser feliz sem brincar e não desenvolverá todo o seu potencial se a brincadeira não fizer parte da sua vida.
Os benefícios das brincadeiras são inesgotáveis. Elas precisam de desafios, que estimulem a fantasia, a imaginação, a curiosidade, a imitação, a atenção, a memória, a autoconfiança e a autonomia.
Para além de aprender a partilhar objetos, é também a brincar que a criança compreende a importância das regras, amplia o seu relacionamento social e o respeito por si mesma e pelo outro.
O brincar também permite que a criança ganhe certa distanciamento em relação ao que a faz sofrer, possibilitando-lhe explorar, reviver e elaborar situações que muitas vezes são difíceis de enfrentar. 

Os pais devem oferecer à criança um ambiente de qualidade, que estimule as interações sociais entre as crianças, seus familiares, seus amigos, procurando  que a sua casa respire também um ambiente enriquecedor da imaginação infantil, onde a criança tenha a oportunidade de atuar de forma autónoma e ativa. 

E é neste propósito que os pais têm um papel fundamental no preparação dos espaços, na seleção e na definição dos brinquedos e contextos a serem explorados.

Há pais que sentem que os seus filhos são calmos, sossegados, não pedem para brincar, não aborrecem, não são irrequietos e se portam muito bem. Pode isto significar que está tudo bem?…errado…é com estas crianças que os pais, família e educadores, se devem preocupar e estar atentos a pequenos sinais (solidão, isolamento, tristeza choro sem motivo aparente, silêncio, agressividade…). Uma criança que não consiga representar o seu sentir e exprimir-se pela brincadeira poderá estar a adoecer. Citando Winnicott (1975) “a brincadeira é universal e é própria da saúde: o brincar facilita o crescer, logo a saúde.”

Se os vossos filhos se enquadrarem neste modelo ou tiverem dúvidas quanto a determinados comportamentos procurem ajuda especializada.

Se assim não for, brinquem, brinquem muito com os vossos filhos: a jogar à bola, às casinhas, aos piratas, aos super-heróis,  com os legos, façam pinturas e desenhos, joguem às escondidas, façam teatros, e outras brincadeiras que se lembrem.


Na interacção do brincar, para além de motivar a criança e estimular a sua imaginação, sairam reforçados os laços afetivos, tornando a relação mais saudável!

Por Dra. Catarina Policarpo, Psicóloga Infantil

sexta-feira, setembro 19, 2014

O Medo de ir para a escola : Fobia Escolar?


O Início do ano lectivo está aí e o retorno ou a entrada na escola nem sempre é calma e tranquila para todas as crianças.

Há sempre algum nervosimo e ansiedade no retorno, pode mesmo para alguns atingir niveis muito elevados de ansiedade e angustia com uma recusa total à escola: a Fobia escolar

A Fobia escolar afecta, cerca de 5% de crianças do jardim de infância, e cerca de 2% de crianças do ensino básico registando-se uma maior incidência de fobia escolar no primeiro ano lectivo da criança.


No entanto não é raro que a fobia escolar apareça no, 2º ciclo, ou secundário ou até mesmo na entrada da faculdade, pois como referido estas manifestações estão muito associadas a “ansiedade face ao desconhecido” e as mudanças de ciclo escolar, são sempre algo muito significativas para a criança e /ou adolescente.


O que caracteriza uma fobia escolar? 


A Fobia escolar é um medo exacerbado que a criança sente em ir para a escola.
A Fobia escolar é uma perturbaçao da ansiedade e tem tratamento.

Numa situação típica de fobia escolar, a criança/jovem logo de manhã acorda com queixumes de dor de barriga associado por vezes a vómitos, diarreias, dor de cabeça, com intensificação do sintoma à medida que se aproxima a hora de ir para a escola, com verbalização do tipo “…não quero ir para a escola…” ou por vezes na véspera poderá surgir a questão “…amanhã é dia de ir para a escola?...” Despertando nos próprios pais alguma ansiedade na busca de melhor lidar com a situação e não deitar tudo a perder.

Na Fobia escolar da criança está, quase sempre, latente uma grande “ansiedade de separação” dos seus pais e do mundo que lhe é familiar e no qual se sente protegido.
Estas crianças geralmente, apresentam também, dificuldades em dormir sozinhas, medo de ir para casa de amigos, entre outras relutâncias em se distanciar das pessoas com as quais passa a maior parte do tempo.

Esta fobia escolar ou recusa ansiosa escolar é mais frequente no primeiro ano lectivo da vida da criança. Na fobia escolar, a criança fala da escola sempre com medo, negativismo e pode chorar para não ir.

Até se transformar na ‘segunda casa’, a escola representa um mundo desconhecido. Por isso, nos primeiros dias de aula, os sintomas podem ser mais intensos porque a criança se vê às cinco minutos parece uma eternidade.

Na escola, é muito comum, que a criança se afaste dos colegas, se isole, não brinque, já que se sente muito mal lá dentro.

Além da manifestação explícita de não querer ir à escola, a fobia escolar pode atingir sintomas tais como :choro frequente, suores frios ou tremores, diarreia, vómitos, medo de ficar sozinha, medo de algo abstracto, incapacidade de enfrentar o problema sozinha, perda do apetite, voltar a urinar na cama, insónias, pesadelos, entre outros.

A fobia é um problema que difere completamente de preguiça ou má vontade, e do absentismo. Os próprios pais percebem isso no comportamento da criança. Também é diferente da recusa esporádica em ir à escola, especialmente após as férias.

No caso da fobia, as crianças regressam a casa, apresentam ansiedade com sintomas psicossomáticos, enquanto que os absentistas não vão para casa, não sentem ansiedade, nem sintomas. Enquanto que nas fobias as crianças têm um perfil caracterizado por serem conscienciosas, perfeccionistas e bem comportadas, nos absentistas manifestam comportamentos desajustados ou delinquentes. Esta distinção é importante que seja feita, para um modo de abordar e intervir adequado pelos próprios pais.

Geralmente, as crianças que desenvolvem essa ansiedade e medo incontroláveis são boas alunas e não perdem rendimento escolar.

Quando o problema surge é essencial que a equipa da escola saiba o que está acontecendo, pois, muitas vezes, uma figura de confiança do aluno deve acompanhá-lo e permanecer por um determinado período no ambiente escolar, até que ele desenvolva autoconfiança. Os próprios coordenadores podem, por vezes, desempenhar este papel, ao ficarem mais próximos deste aluno, encorajando-o a ponto de se sentir bem na sala de aula.

O que pode estar na origem deste tipo de fobia?
Os motivos que levam a criança a desenvolver fobia escolar podem ser vários ou uma associação deles. Dentre eles estão a predisposição biológica (genética), a mudança de escola, professor severo, conflito com colegas, o temperamento da criança, a vulnerabilidade à acção do ambiente familiar( mudança de casa, divórcio dos pais, morte de um familiar, conflitos familiares), e até mesmo a preocupação excessiva de alguns pais com a separação dos seus filhos.

Os sintomas da fobia escolar estão fortemente associados ao tipo de relação da criança com seus pais, desde o nascimento até a idade pré-escolar.

Porém, é interessante salientar que duas ou mais crianças que recebem a mesma educação, tanto escolar quanto familiar, (filhas dos mesmos pais), não significa necessariamente que todas irão desenvolver fobia escolar.

A fobia escolar também pode ter origem em agressões verbais ou físicas de que a criança foi vítima na escola ( ou seja, ser vítima de bullying).

Em que é que difere de uma ansiedade normal no regresso às aulas?

O primeiro ou primeiros dias desencadeiam naturalmente algum nervosismo, perante a ideia de novos professores, nova turma, nova escola ou simplesmente a mudança de rotina das férias para as aulas, até os mais calmos poderão ficar afectados nas primeiras semanas de aulas.

Outros casos existem em que a ansiedade normal pode dar lugar a medos mais significativos. As fobias ocorrem com frequência nas crianças e por vezes desaparecem espontaneamente, sinal que a criança conseguiu ultrapassar os seus receios.
No caso específico da fobia escolar, enquanto perturbação emocional que desencadeia uma resposta fóbica face à escola, inicialmente não deverá ser motivo de alarme, de um modo tranquilo os pais deverão sempre incentivar e encarar com optimismo a hora de ir para a escola, sem forçar bruscamente mas persistir no cumprimento da assiduidade escolar.
Caso este comportamento persista para além de dois meses, será importante procurar outro tipo de suporte de modo a evitar o agravamento da situação, mesmo na futura vida escolar e social da criança/jovem.

O que podem os pais fazer para ajudar os filhos com fobia escolar?
È muito importante que os pais, não ridicularizarem ou subestimem os medos da criança, pelo contrário, devem mostrar compreensão.

Porém, também devem facilitar que a criança se afaste da escola. No momento de ir para escola os pais devem ser firmes, mas respeitar a limitação de seus filhos, pois para eles já é muito difícil estar com esta dificuldade.

È importante Incentivar a criança a ir à escola, nunca obrigá-la e tentar tranquilizá-la, que no fim do dia volta a estar com os pais. Por vezes os pais poderão mesmo ter de permanecer durante alguns periodos na escoal para ajudar a criança a tranquilizar-se.
Manter o máximo de diálogo com a criança
Ajudar a criança a encontrar o meio de superar o obstáculo
Fazer com que os amigos sejam elementos importantes na inserção na escola.

Se os sintomas persistirem para além de dois meses, e em casos mais críticos, os pais devem encaminhar o filho para psicoterapia.O tratamento da criança com fobia escolar deve ser abrangente: é necessária a participação efectiva da escola, dos pais e do psicólogo. Essa interacção, entre todos e esse envolvimento é que vão fazer com que a criança supere a fobia.

É fundamental que os pais fiquem atentos quanto à procura de profissionais especializados ( psicólogos ou psicoterapeutas) dado que esta fobia pode ocasionar um afastamento da escola, fracasso e repetência escolar, vergonha de enfrentar novamente os colegas, entre outros factores.


Todos estas consequências reduzem a auto-estima da criança, com consequências para o resto de sua vida. Além disso, a tendência de uma criança com fobia escolar, se não for ajudada a ultrapassar a situação, é que desenvolva outros medos, como, por exemplo, de elevador, animais, escuro, etc. Enfim, os danos são grandes quando se adia o tratamento.



Procurar ajuda, ouvir as diretrizes dos profissionais envolvidos e poder dividir as dificuldades que possam encontrar no tratamento de seu filho, contribuirá efetivamente na maravilhosa tarefa de ser pai e mãe e no desenvolvimento de uma criança feliz.

quinta-feira, setembro 04, 2014

O Medo de ir para a escola: Fobia escolar?


O Início do ano lectivo está aí e o retorno ou a entrada na escola nem sempre é calma e tranquila para todas as crianças.

Há sempre algum nervosimo e ansiedade no retorno, pode mesmo para alguns atingir niveis muito elevados de ansiedade e angustia com uma recusa total à escola: a Fobia escolar

A Fobia escolar afecta, cerca de 5% de crianças do jardim de infância, e cerca de 2% de crianças do ensino básico registando-se uma maior incidência de fobia escolar no primeiro ano lectivo da criança.


No entanto não é raro que a fobia escolar apareça no, 2º ciclo, ou secundário ou até mesmo na entrada da faculdade, pois como referido estas manifestações estão muito associadas a “ansiedade face ao desconhecido” e as mudanças de ciclo escolar, são sempre algo muito significativas para a criança e /ou adolescente.


O que caracteriza uma fobia escolar? 



A Fobia escolar é um medo exacerbado que a criança sente em ir para a escola.
A Fobia escolar é uma perturbaçao da ansiedade e tem tratamento.


Numa situação típica de fobia escolar, a criança/jovem logo de manhã acorda com queixumes de dor de barriga associado por vezes a vómitos, diarreias, dor de cabeça, com intensificação do sintoma à medida que se aproxima a hora de ir para a escola, com verbalização do tipo “…não quero ir para a escola…” ou por vezes na véspera poderá surgir a questão “…amanhã é dia de ir para a escola?...” Despertando nos próprios pais alguma ansiedade na busca de melhor lidar com a situação e não deitar tudo a perder.


Na Fobia escolar da criança está, quase sempre, latente uma grande “ansiedade de separação” dos seus pais e do mundo que lhe é familiar e no qual se sente protegido.
Estas crianças geralmente, apresentam também, dificuldades em dormir sozinhas, medo de ir para casa de amigos, entre outras relutâncias em se distanciar das pessoas com as quais passa a maior parte do tempo.


Esta fobia escolar ou recusa ansiosa escolar é mais frequente no primeiro ano lectivo da vida da criança. Na fobia escolar, a criança fala da escola sempre com medo, negativismo e pode chorar para não ir.


Até se transformar na ‘segunda casa’, a escola representa um mundo desconhecido. Por isso, nos primeiros dias de aula, os sintomas podem ser mais intensos porque a criança se vê às cinco minutos parece uma eternidade.


Na escola, é muito comum, que a criança se afaste dos colegas, se isole, não brinque, já que se sente muito mal lá dentro.


Além da manifestação explícita de não querer ir à escola, a fobia escolar pode atingir sintomas tais como :choro frequente, suores frios ou tremores, diarreia, vómitos, medo de ficar sozinha, medo de algo abstracto, incapacidade de enfrentar o problema sozinha, perda do apetite, voltar a urinar na cama, insónias, pesadelos, entre outros.


A fobia é um problema que difere completamente de preguiça ou má vontade, e do absentismo. Os próprios pais percebem isso no comportamento da criança. Também é diferente da recusa esporádica em ir à escola, especialmente após as férias.


No caso da fobia, as crianças regressam a casa, apresentam ansiedade com sintomas psicossomáticos, enquanto que os absentistas não vão para casa, não sentem ansiedade, nem sintomas. Enquanto que nas fobias as crianças têm um perfil caracterizado por serem conscienciosas, perfeccionistas e bem comportadas, nos absentistas manifestam comportamentos desajustados ou delinquentes. Esta distinção é importante que seja feita, para um modo de abordar e intervir adequado pelos próprios pais.


Geralmente, as crianças que desenvolvem essa ansiedade e medo incontroláveis são boas alunas e não perdem rendimento escolar.


Quando o problema surge é essencial que a equipa da escola saiba o que está acontecendo, pois, muitas vezes, uma figura de confiança do aluno deve acompanhá-lo e permanecer por um determinado período no ambiente escolar, até que ele desenvolva autoconfiança. Os próprios coordenadores podem, por vezes, desempenhar este papel, ao ficarem mais próximos deste aluno, encorajando-o a ponto de se sentir bem na sala de aula.


O que pode estar na origem deste tipo de fobia?
Os motivos que levam a criança a desenvolver fobia escolar podem ser vários ou uma associação deles. Dentre eles estão a predisposição biológica (genética), a mudança de escola, professor severo, conflito com colegas, o temperamento da criança, a vulnerabilidade à acção do ambiente familiar( mudança de casa, divórcio dos pais, morte de um familiar, conflitos familiares), e até mesmo a preocupação excessiva de alguns pais com a separação dos seus filhos.


Os sintomas da fobia escolar estão fortemente associados ao tipo de relação da criança com seus pais, desde o nascimento até a idade pré-escolar.


Porém, é interessante salientar que duas ou mais crianças que recebem a mesma educação, tanto escolar quanto familiar, (filhas dos mesmos pais), não significa necessariamente que todas irão desenvolver fobia escolar.


A fobia escolar também pode ter origem em agressões verbais ou físicas de que a criança foi vítima na escola ( ou seja, ser vítima de bullying).


Em que é que difere de uma ansiedade normal no regresso às aulas?


O primeiro ou primeiros dias desencadeiam naturalmente algum nervosismo, perante a ideia de novos professores, nova turma, nova escola ou simplesmente a mudança de rotina das férias para as aulas, até os mais calmos poderão ficar afectados nas primeiras semanas de aulas.


Outros casos existem em que a ansiedade normal pode dar lugar a medos mais significativos. As fobias ocorrem com frequência nas crianças e por vezes desaparecem espontaneamente, sinal que a criança conseguiu ultrapassar os seus receios.
No caso específico da fobia escolar, enquanto perturbação emocional que desencadeia uma resposta fóbica face à escola, inicialmente não deverá ser motivo de alarme, de um modo tranquilo os pais deverão sempre incentivar e encarar com optimismo a hora de ir para a escola, sem forçar bruscamente mas persistir no cumprimento da assiduidade escolar.
Caso este comportamento persista para além de dois meses, será importante procurar outro tipo de suporte de modo a evitar o agravamento da situação, mesmo na futura vida escolar e social da criança/jovem.

O que podem os pais fazer para ajudar os filhos com fobia escolar?
È muito importante que os pais, não ridicularizarem ou subestimem os medos da criança, pelo contrário, devem mostrar compreensão.


Porém, também devem facilitar que a criança se afaste da escola. No momento de ir para escola os pais devem ser firmes, mas respeitar a limitação de seus filhos, pois para eles já é muito difícil estar com esta dificuldade.


È importante Incentivar a criança a ir à escola, nunca obrigá-la e tentar tranquilizá-la, que no fim do dia volta a estar com os pais. Por vezes os pais poderão mesmo ter de permanecer durante alguns periodos na escoal para ajudar a criança a tranquilizar-se.
Manter o máximo de diálogo com a criança
Ajudar a criança a encontrar o meio de superar o obstáculo
Fazer com que os amigos sejam elementos importantes na inserção na escola.

Se os sintomas persistirem para além de dois meses, e em casos mais críticos, os pais devem encaminhar o filho para psicoterapia.O tratamento da criança com fobia escolar deve ser abrangente: é necessária a participação efectiva da escola, dos pais e do psicólogo. Essa interacção, entre todos e esse envolvimento é que vão fazer com que a criança supere a fobia.

É fundamental que os pais fiquem atentos quanto à procura de profissionais especializados ( psicólogos ou psicoterapeutas) dado que esta fobia pode ocasionar um afastamento da escola, fracasso e repetência escolar, vergonha de enfrentar novamente os colegas, entre outros factores.


Todos estas consequências reduzem a auto-estima da criança, com consequências para o resto de sua vida. Além disso, a tendência de uma criança com fobia escolar, se não for ajudada a ultrapassar a situação, é que desenvolva outros medos, como, por exemplo, de elevador, animais, escuro, etc. Enfim, os danos são grandes quando se adia o tratamento.




Procurar ajuda, ouvir as diretrizes dos profissionais envolvidos e poder dividir as dificuldades que possam encontrar no tratamento de seu filho, contribuirá efetivamente na maravilhosa tarefa de ser pai e mãe e no desenvolvimento de uma criança feliz.

segunda-feira, agosto 25, 2014

Como lidar com os filhos Adolescentes??

Entrevista cedida pela Dra. Maria de Jesus Candeias à Revista Activa, Junho 2014. 

Socorro! Tenho um adolescente em casa!

Afinal , o que mais preocupa os pais de adolescentes? É assim tão complicado ter um filho nos ‘teens’? Pedimos a algumas mães que nos expusessem as suas maiores angústias, e a uma psicóloga que respondesse.

A adolescência é a idade dos namoros, das saídas, das respostas parvas, das míni saias... É preciso entrar em pânico ou estamos a fazer um bom trabalho? Maria de Jesus Candeias, psicóloga clínica e diretora da clínica ‘Crescer’, respondeu a várias perguntas e explicou porque é que, neste caso, todas as mães deviam ser... mães adolescentes.

- A adolescência é mesmo uma fase complicada?
Nem sempre. A adolescência é um processo normal, com vários desafios que os jovens precisam de correr, mas não é necessariamente um período perturbado.

- O mundo está mesmo mais perigoso?
Acho que há dois lados: a liberdade dos jovens aumentou o acesso a muitos perigos, mas também noto que há uma grande dramatização da realidade. Há coisas que passam como se fossem realidade mas são apenas situações pontuais. Portanto, temos de ter os cuidados básicos mas sem exagerar.

- 13 anos é demasiado novo para sair à noite?
É. Os pais têm de manter a autoridade até ao limite, e os jovens só são responsáveis por si próprios aos 18 anos. Sei que há muitos jovens a sair com 13 anos, mas para mim é impensável deixar alguém sair antes dos 16. Os pais têm de ter consciência de que estes limites não são impostos por acaso: uma criança com 13 anos ainda não se sabe defender. E os pais têm de perceber que são responsáveis pelos filhos, mesmos que eles protestem. Claro que os adolescentes também protestam mais quando sentem que há margem para isso... Portanto, os pais devem ir estabelecendo metas progressivas de conquista de liberdade e confiança.

Devo ir buscá-lo à discoteca?
Nas primeiras vezes. Os pais devem assegurar-se de que eles voltam em segurança para casa. Têm de saber como vão, com quem vão, como voltam. Conhecer os amigos é muito importante. É normal que os jovens não gostem que os pais os vão buscar, por isso nas primeiras saídas pode-se combinar com eles algum lugar de encontro, por exemplo. Porque eles dizem que não gostam mas também se sentem protegidos. Depois gradualmente pode-se deixá-los vir pelos seus próprios meios, se se vir que merecem confiança e cumprem os horários de entrada.

- Devem ter mesada?
Acho que sim. A mesada é muito importante no sentido da responsabilização e de ensinar a criança e depois o adolescente a fazer a sua gestão e a tornar-se autónomo, mas a quantia deve variar em função da idade, das possibilidades da família e daquilo que o adolescente precisa de gastar por mês. Dizer ‘dou-lhe 20 euros porque sim’, é irrealista e não vai ensiná-lo a gerir nada. Claro que dar-lhe dinheiro a mais que lhe permita comprar tudo o que quer também não vai ensiná-lo a poupar, a fazer escolhas, a perceber que para ter algumas coisas não pode ter outras.

 - As notas da minha filha baixaram muito porque anda demasiado ocupada com os namorados. O que é que posso fazer?
Isso é absolutamente normal. Os pais stressam imenso quando as notas baixam, mas têm de perceber que é uma fase absolutamente natural e que o adolescente tem nessa altura mais com que se preocupar... Os pais não devem dramatizar, porque, se não se fizer um grande drama, há ali um ano ou dois em baixo mas depois as coisas normalizam. Se der demasiada importância à situação, isto pode resultar num problema difícil de resolver.

- Vi a minha filha beijar um rapaz. Devo contar ao meu marido ou não?
Ainda temos muitos preconceitos em relação à sexualidade das raparigas. Se for um rapaz, achamos que faz muito bem e que já está um homenzinho, se é uma rapariga ficamos em pânico. Acho que não há mal nenhum em partilhar com o marido o desenvolvimento de um filho – mas se já se sabe que isso vai criar tensão, a própria mãe tem de gerir isso. Aliás, não há nada que possa fazer...

- Devo levá-la ao ginecologista?
A mãe deve marcar uma consulta e perguntar à filha: queres que a mãe vá contigo ou preferes ir sozinha? É importante explicar-lhe que tal não servirá necessariamente para iniciar a sua vida sexual mas para ver se está tudo bem. Além dos ginecologistas também há consultas de apoio nos centros de saúde com técnicos que falam com eles mais à vontade. Portanto, não precisam de ser os pais a ter estas conversas com os filhos, mas podem encaminhá-los. Se bem que hoje em dia os jovens têm muito mais acesso à informação.

 - É possível educá-los para resistir ao bullying?
Educá-los para resistir é difícil, porque as vítimas de bullying têm características muito próprias ligadas à timidez, ao medo, à falta de autoestima, que as levam a estar nestas situações. Não se pode dizer-lhes ‘reajam’ ou ‘não tenham medo’ ou ‘não ligues’, porque é óbvio que a natureza deles não os autoriza a fazê-lo. Portanto, é importante estar atento ao comportamento deles, dizer-lhes que essas situações não acontecem só a eles, e alertá-los para pedirem ajuda se tiverem algum problema, porque o segredo e a vergonha impedem-nos muitas vezes de serem auxiliados.

- Como afastá-los das más influências?
Geralmente, os jovens procuram os seus iguais. Portanto, eles procuram pessoas com as quais se identifiquem e se sintam bem. Ou eles próprios se sentem à margem na família e procuram alguém nas mesmas condições, ou vão escolher amigos com o mesmo tipo de valores. Os jovens procuram-se segundo uma atração pelo mesmo. Se um jovem for muito estruturado, procura pessoas igualmente sólidas. Se está menos estruturado ou tem curiosidade por outro tipo de comportamentos, irá procurar pessoas que depois podem potenciar situações menos saudáveis... Mas ele é que fará a sua escolha.

- A minha filha de 15 anos teima em usar saias mesmo curtas. Faço o quê?
Nada. A adolescência passa por essa exibição do corpo e o assumir da sexualidade. Elas precisam de se sentir desejáveis, e de mostrar que já não são crianças. Novamente, temos dificuldade em lidar com a sexualidade dos jovens, principalmente das raparigas. E novamente, temos de as respeitar e recordar a adolescente que fomos. O problema dos adultos é que muitas vezes se esquecem da sua própria experiência de juventude...  Ora os filhos têm de passar pelos mesmos processos, embora os tempos sejam outros. E os pais deviam recordar essa experiência para poderem ser, olhe, pais adolescentes (risos).

 - A prevenção funciona, ou por mais que se avise, eles vão sempre fazer o que os amigos fazem, por mais estúpido ou perigoso que seja?
É possível resistir à pressão de grupo, mas essa pressão pode tornar-se bastante pesada. Se o jovem estiver num grupo saudável, terá menos problemas porque as opções de cada um serão respeitadas. Mas grupos mais problemáticos acabam por exercer mais pressão. Os pais podem falar disto com os filhos, e é importante que os ajudem a não ter vergonha de ser quem são. Um jovem com autoestima facilmente ultrapassa estas questões, mas se for mais inseguro pode ter mais dificuldades.

 - Com a mania que estão a crescer, cada vez mais se esquivam a um contacto físico, um abraço, um beijo, mesmo o mais básico. Devemos insistir ou esquecer?
Devemos respeitar e dar-lhes espaço. Há um período em que eles precisam de mostrar que já não são bebés e querem demarcar-se dos comportamentos infantis. Durante esse período, não devemos insistir no contacto físico. Quando eles forem – ou se sentirem – mais adultos, voltarão àquilo que são naturalmente: afetuosos ou menos afetuosos...
  

CAIXA
Como não perder o controlo das vidas deles?
“Mas a ideia é mesmo essa: os filhos não são pertença dos pais...”, nota Maria de Jesus Candeias. “Os filhos têm uma vida própria, uma luta própria, objetivos próprios, não estão cá para fazerem o que nós queremos que eles façam, e isto muitas vezes é confundido com pôr em causa a autoridade dos pais. Muitos pais vivem isto como uma afronta, quando se trata apenas de os filhos terem opiniões diferentes. Ou então, os pais veem como uma traição: agora gostam mais dos amigos do que dos pais... Isto gera muitos mal-entendidos. Mas um jovem que discute com os pais e luta pela sua autonomia é um jovem saudável.”

CAIXA
Se eu lhe contar os erros que cometi, ele fará o mesmo?
“Ele fará o que precisar de fazer. As mães têm de fazer o luto da criança que os filhos foram e perceber que têm em mãos o fantástico desafio de transformar aquelas pessoas em adultos saudáveis. Mas para isso os jovens têm de viver a sua vida e cometer muitos erros. Os pais tentam muitas vezes poupar aos filhos erros que eles próprios fizeram, mas as coisas não funcionam assim. O filho terá de passar por tudo ele mesmo, tem de aprender a viver por conta própria, tem de aprender a pensar sozinho e ganhar um sentido de exigência próprio e interiorizado, sem estar a fazer alguma coisa porque outra pessoa acha que ele deve.”


 Entrevista cedida pela Dra. Maria de Jesus Candeias à Revista Activa, Junho 2014

terça-feira, julho 01, 2014

A DOR NA PERDA DE UM FILHO


A perda de um filho é uma dor, a meu ver e pela minha prática clínica, dificilmente ultrapassável. Diria mesmo que é uma das perdas nas quais não é possível fazer um luto.
O que os pais fazem muitas vezes é encontrar estratégias para funcionar, levar a sua vida (os que o conseguem) mas emocionalmente a ferida continua aberta.

A perda de um filho é uma “ferida impossível de cicatrizar”.
E isto porque a perda de um filho é um acontecimento contra a lei e ordem natural da vida, e os pais que ao conceberem um filho vêem neles a sua continuidade, quando perdem um filho perdem parte de si também!

Importa distinguir, porém, a perda de um filho por morte ou por desaparecimento.

Ambas são perdas inultrapassáveis, porém os mecanismos psicológicos são diferentes numa e noutra perda.

Na morte de um filho, há um fim para aquele que parte. A dor é terrível, mas os pais podem velar, podem chorar, podem fazer a despedida e enfrentar a morte ou a partida do filho. Sabem o que lhe aconteceu, a perda é real, concreta. E Isto dá-lhes a oportunidade, e obriga-os, por mais doloroso que seja a enfrentar a realidade e como tal dá-lhes a possibilidade de fazerem esse luto e transformar essa dor.

Na perda de um filho por desaparecimento, o processo a nível mental é bem mais doloroso, porque aqui não é possível fechar o ciclo, fazer o luto, nem recomeçar uma nova vida. A vida dos pais fica suspensa. Não podem desistir, nem perder a esperança, porque não sabem o que aconteceu, e se a morte é real ou não. Se desistirem é como se estivessem a abandonar o filho, porque existe a hipótese mesmo que remota de que o filho pode estar vivo. Enquanto os pais não puderem “ver o corpo” do filho, e realmente confirmarem a perda, não conseguem parar este processo. Não podem desligar-se de um filho, “enterrá-lo”, fazer o luto, sem a certeza de que está vivo ou morto. Nestes casos, a vida dos pais fica suspensa numa procura permanente e ostensiva do filho. Nestes casos não é mesmo possível ultrapassar a perda.

A ajuda de técnicos especializados, psicólogos, psicoterapeutas, assim como os grupos de apoio com o mesmo tipo de dor, são fundamentais para ajudar os pais a fazer a sua caminhada na dor e a gerir de uma forma mais pacífica as suas emoções evitando desta forma a desorganização total destes pais.

Que tipo de sentimentos desperta esta situação na família?

O tipo de sentimentos que a perda de um filho desperta no seio da família depende de vários factores, tais como: o tipo de morte (morte súbita por acidente, morte por doença prolongada, suicídio, etc), ou desaparecimento; e depende também e obviamente do tipo de relações e proximidade entre os elementos da família.

De qualquer forma, uma forma mais global, a perda de um filho provoca sempre um desequilíbrio no sistema familiar.
A perda de um filho provoca sentimentos de raiva, culpa, tristeza, depressão, desejo de abandono da vida, que cada um dos elementos sente não só dentro de si, como projectam nos outros elementos da família, criando alguma tensão familiar.

Vários estudos apontam que grande percentagem de pais que perdem um filho acaba por se divorciar. Este aspecto pode não só ter a ver com as acusações recíprocas que podem ocorrer, mas também uma forma de fugir daquela realidade, do contexto onde existia um ser que agora não está mais presente. É como se a separação lhes permitisse apagar o passado e recomeçar de novo.

Um dos acontecimentos que se verifica nas famílias, é o silêncio, o vazio, a perda da capacidade de comunicação, não conseguem falar sobre o acontecimento, sobre o que sentem. Este isolamento provoca um grande sentimento de solidão e distanciamento entre os elementos da família numa fase em que mais do que nunca deveriam estar unidos.

Claro que este desligamento não é intencional, mas é muitas vezes uma forma de mostrarem aos restantes elementos da família que estão a conseguir ultrapassar, que não dói, com receio de despertarem a dor um nos outros. O que não é real, porque é inevitável que num processo de luto todos estejam a sofrer e mais saudável do que “abafar a dor” é exteriorizá-la, partilhá-la, porque aí quer pais quer irmãos, sabem que não estão sós na sua dor, que faz parte do processo, e poder-se-ão abrir e receber ajuda uns dos outros.

O desenvolvimento de sentimentos de culpa é inevitável?

Sim. È inevitável que todos se questionem, se ponham em causa, o que poderiam ter feito ou evitado que a situação acontecesse.

E obviamente que dependendo das circunstancias em que aconteceu a culpa é maior ou menor, e a pessoa consegue ou não ultrapassar a situação.

Mais uma vez, também aqui ajuda especializada é fundamental. Pois muitas vezes a interiorização da culpa pode dar origem a processos de auto-destruição: consumo abusivo de álcool, sobre medicação, entre outras.

No caso de uma família que perde um filho, o que acaba por acontecer aos restantes? Existe um desligamento do filho que fica?

Numa família com mais de um filho, a perda de um dos filhos, altera toda a dinâmica familiar e traz obviamente consequências para o filho que fica, porque inevitavelmente, os pais “perdidos na sua dor” acabam por ter pouca disponibilidade afectiva e emocional para dar atenção ao filho que fica.

No caso de desaparecimento de um filho este acontecimento é muito evidente, os pais tão absorvidos pela busca do filho que perderam, todas as suas forças e energias ficam canalizadas para o acontecimento, “esquecendo-se” um pouco das necessidades do filho que fica. E isto deixa muitas vezes marcas nos filhos que ficam, que por vezes sentem que não há espaço para eles no pensamento, nem na vida, nem no coração dos pais, colocam mesmo em causa o que representam para os pais, o que os pais sentem por eles, como se só irmão existisse no pensamento dos pais. Nestes processos, é fundamental que os pais tomem consciência deste facto para que consigam de alguma forma minimizar os seus efeitos. A presença de alguém da família, os avós por exemplo, presente no seio familiar, disponível para este filho que fica, pode também ajudar a minimizar, desta ausência afectiva dos pais.

Que tipo de consequência surgem em pais que perdem um filho?

A dor enorme produzida pela perda de um filho dificilmente ultrapassável conduz muitas vezes, se não houver ajuda de psicólogos ou psicoterapeutas a uma detiorização da saúde mental conduzindo a depressões profundas, a uma desistência da vida e por vezes a uma retirada total da realidade.

Em média quanto tempo poderão demorar a ultrapassar esta situação?

Como já referi a perda de um filho é uma ferida que é para toda a vida, porém é importante que embora emocionalmente a ferida continue por toda a vida, os pais consigam recomeçar a funcionar. NO fundo é importante que passado algum tempo, diria que entre os 6 meses e um ano após o incidente, os pais consigam retomar as suas rotinas diárias, o seu trabalho, a sua vida social.

Se isto não acontecer é importante pedir ajuda, porque significa que não estão a conseguir ultrapassar a dor e correm o risco de ficar “presos” nessa dor. Nestas condições, e se não houver ajuda, começam a surgir condições para que a doença mental se instale, e se inicie um processo de desorganização mental. È a entrada no chamado “Luto Patológico”.

A Esperança acaba por ser um mecanismo psicológico de refúgio?

Não diria que a esperança seja um espaço de refúgio, mas é aquilo que é possível a qualquer pai e a qualquer ser humano fazer quando não tem a certeza do que aconteceu.

Estatisticamente, quando um filho desaparece, a probabilidade de ele estar vivo, num outro qualquer lugar, é tão real e igual ou mesmo superior do que ele estar morto. Como tal, não é coerente internamente para qualquer pai, deixar de acreditar que não é possível encontrar o seu filho ou desistir de procurar, porque isto significa abandonar o seu filho, e este fenómeno vai contra os instintos paternais de protecção da sua cria. No fundo os pais continuam a lutar até chegarem a uma certeza.

Como vêem as crianças o desaparecimento de amigos da mesma idade? Pode criar algum trauma nas crianças?

As crianças têm uma maior flexibilidade na sua organização mental e há coisas de que ainda não têm muita consciência, entre elas a questão da morte.

Claro, que surgem na criança muitas questões, dúvidas, mas a sua capacidade de integração da realidade é relativa e portanto, ficam pensativas, fazem perguntas, ficam tristes, mas passado algum tempo, ultrapassam a situação sem qualquer trauma.

Que impacto têm casos como o desaparecimento de Maddie na sociedade? Que tipo de reacções cria nas pessoas? Nomeadamente medo nas crianças?

Penso que casos como Maddie nos fazem a todos pensar seriamente no assunto, no que sentiríamos enquanto pais na mesma situação, na maldade que existe no mundo, e como é que é possível estas coisas acontecerem. Desperta os nossos medos, traz ao cimo as nossas inseguranças, e faz-nos aumentar as nossas defesas.

As crianças também ouvem e se questionam, mas rapidamente esquecem e ultrapassam a situação. Os medos e as inseguranças só permanecem nas crianças se os adultos à sua volta também insistem em lhe passar a mensagem de um mundo assustador e de adultos que fazem mal às crianças e isto obviamente não é saudável para nenhuma criança. È fundamental que as crianças tenham uma imagem segura e tranquila do mundo à sua volta, e que tenham a certeza de que nada lhes acontece porque têm adultos suficientemente fortes e protectores à sua volta que os protegem das coisas más.

Muitas vezes os adultos tentam proteger as crianças alertando-as para os perigos e falando-lhes das coisas más para que elas tenham atenção e cuidado: Porém o que acontece é que a criança não tem capacidade para gerir estes aspectos internamente e vai desenvolver medos e vai crescer assustada, o que não é nada saudável numa criança.

Maria de Jesus Candeias

Psicóloga Clínica, Psicoterapeuta