A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR E DO ENVOLVIMENTO DOS PAIS
Desperta os teus sentidos
para que não
percas
tudo de belo
e formoso
que te
cerca.
Apaga a
cinza da tua vida
e acende as cores
que carregas dentro de ti.
Pablo
Picasso
É recente a
importância que se dá ao brincar na infância. Só na segunda metade do sec. XX,
este tema começou a despertar interesse particularmente junto de investigadores
e pediatras, que se aperceberam da importância do brincar no desenvolvimento
social, emocional e cognitivo da criança.
Vygotsky refere-se à brincadeira como um modo de
expressão e apropriação, pela criança, do mundo das relações, das atividades e
dos papéis dos adultos.
A capacidade para imaginar, fazer planos, apropriar-se
de novos conhecimentos surge, nas crianças, através do brincar. A criança, por
intermédio da brincadeira, das atividades lúdicas, atua, mesmo que
simbolicamente, nas diferentes situações vividas pelo ser humano, reelaborando
sentimentos, conhecimentos, significados e atitudes.
Ou
seja, é através do brincar que a criança permite que o seu mundo imaginário se
cruze com o seu mundo real, e esta realidade externa permite-lhe desenvolver
competências para aprender a estar em família, a lidar com as suas frustrações,
a imitar o outro (a representar, no fundo um papel de mãe, pai, animal,
bombeiro, batman, etc) e a amadurecer no seu desenvolvimento social. Por
exemplo, quando uma menina vê a sua mãe a embalar o irmão, ela irá reproduzir
este padrão de comportamento nas suas brincadeiras, aprendendo assim competências
enquanto futura mãe. Significa, pois, que não é propriamente o objeto que
importa, mas a relação que a criança estabelece com ele, a experiência que
cria, aquilo em que a sua imaginação o transforma.
Recordando
a nossa infância, todos nós idealizamos o que gostaríamos de ser quando
fossemos “grandes” (bombeiros, professores, médicos, bailarinas, etc). Era ao colocarmo-nos nestes papéis, que nos
preparávamos para entrar no mundo dos adultos. Devemos permitir hoje que as
nossas crianças tenham a mesma sorte, deixando-as conduzir as brincadeiras, ser espontâneas,
criativas e, como pais, entrar no seu imaginário e atuar como personagens.
Vemos
nos dias de hoje, os pais preocuparem-se muito se os filhos estudaram ou não,
mas são raros os que se inquietam se os filhos brincam sem perceberem que
nenhuma criança pode ser feliz sem brincar e não desenvolverá todo o seu
potencial se a brincadeira não fizer parte da sua vida.
Os benefícios das brincadeiras
são inesgotáveis. Elas precisam de desafios, que estimulem a fantasia, a
imaginação, a curiosidade, a imitação, a atenção, a memória, a autoconfiança e
a autonomia.
Para além de aprender a
partilhar objetos, é também a brincar que a criança compreende a importância
das regras, amplia o seu relacionamento social e o respeito por si mesma e pelo
outro.
O brincar também permite
que a criança ganhe certa distanciamento em relação ao que a faz sofrer,
possibilitando-lhe explorar, reviver e elaborar situações que muitas vezes são
difíceis de enfrentar.
Os
pais devem oferecer à criança um ambiente de qualidade, que estimule as
interações sociais entre as crianças, seus familiares, seus amigos, procurando que a sua casa respire também um ambiente
enriquecedor da imaginação infantil, onde a criança tenha a oportunidade de
atuar de forma autónoma e ativa.
E é neste propósito que os pais têm um papel
fundamental no preparação dos espaços, na seleção e na definição dos brinquedos
e contextos a serem explorados.
Há pais que sentem que os seus filhos são calmos,
sossegados, não pedem para brincar, não aborrecem, não são irrequietos e se
portam muito bem. Pode isto significar que está tudo bem?…errado…é com estas crianças que os pais, família e educadores, se
devem preocupar e estar atentos a pequenos sinais (solidão, isolamento, tristeza choro sem motivo aparente, silêncio, agressividade…). Uma criança que
não consiga representar o seu sentir e exprimir-se pela brincadeira poderá
estar a adoecer. Citando Winnicott (1975) “a brincadeira é universal e é própria da saúde: o
brincar facilita o crescer, logo a saúde.”
Se os
vossos filhos se enquadrarem neste modelo ou tiverem dúvidas quanto a
determinados comportamentos procurem ajuda especializada.
Se
assim não for, brinquem, brinquem muito com os vossos filhos: a jogar à bola, às
casinhas, aos piratas, aos super-heróis,
com os legos, façam pinturas e desenhos, joguem às escondidas, façam teatros,
e outras brincadeiras que se lembrem.
Na
interacção do brincar, para além de motivar a criança e estimular a sua
imaginação, sairam reforçados os laços afetivos, tornando a relação mais
saudável!
Por Dra. Catarina Policarpo, Psicóloga Infantil
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