"Pai, Mãe... Não me deixem sozinho"
- A Ansiedade de Separação -
O facto da infância e da
adolescência serem períodos caracterizados por grandes e impactantes mudanças
físicas e psicológicas, torna natural que as crianças e jovens experimentem
diferentes níveis de stress face a todos os novos desafios que estas novas
mudanças acarretam. No entanto, algumas destas crianças e jovens não são
capazes de atingir um ajustamento psicossocial saudável, podendo
apresentar diferentes perturbações ou sintomatologias, como a
ansiedade, que podem influenciar o seu desenvolvimento e funcionamento nos
vários contextos onde se encontram inseridas, nomeadamente familiar, escolar e
social.
Para a maioria das crianças e dos
adolescentes, a ansiedade é uma experiência comum, funcional e transitória,
através do qual o nosso organismo se adapta normalmente às diversas
situações. No entanto, esta ansiedade pode aumentar de intensidade e
tornar-se, muitas vezes, exagerada ou desproporcional em relação ao estímulo,
interferindo na qualidade de vida ou desempenho diário da criança ou jovem.
No que diz respeito à frequência
das perturbações ansiosas nestas faixas etárias, o Transtorno de Ansiedade
de Separação (TAS) abrange aproximadamente metade dos casos
ansiedade, revelando ser a manifestação ansiosa mais frequente.
De acordo com a literatura, o
transtorno de ansiedade de separação é caraterizado por uma ansiedade
excessiva em relação ao afastamento dos pais ou outros cuidadores, que
persiste, no mínimo, por quatro semanas, causando sofrimento intenso e
prejuízos significativos em diferentes áreas da vida da criança ou jovem.
Quando a criança percebe que os seus pais têm de se ir embora, são comuns
algumas manifestações físicas, tais como dor abdominal, dor de
cabeça, náuseas e vómitos.
Quando estamos na presença do
transtorno de ansiedade de separação, estas vivências intensificam-se
drasticamente e expressam-se em situações onde o afastamento não
justifica a intensidade do comportamento ansioso.
A origem do transtorno de
ansiedade de separação é complexa. Diferentes estudos demonstram que
tanto fatores biológicos, como ambientais desempenham determinada influência,
como por exemplo:
Genéticos: crianças com pais
ansiosos têm uma maior probabilidade de apresentar um transtorno de ansiedade;
Psicológicos: Dificuldade ao
nível do reconhecimento e gestão das próprias emoções, interferindo na
capacidade que a criança ou jovem acredita ter para lidar com as ameaças
percebidas;
Relacionados com a família: baixo
afeto e envolvimento entre pais e filhos; comportamentos parentais que
desencorajam a autonomia da criança; pais superprotetores, vinculação
insegura (sobretudo com a mãe); divergência parental; separação ou divórcio;
gravidez da mãe ou nascimento de um irmão; doença física ou psicológica de
algum dos pais.
No entanto, na maioria dos casos, a
perturbação desenvolve-se após alguma situação de stress, tipicamente uma
perda, a morte de um familiar ou de um animal de estimação, de uma doença da
criança ou de um familiar, de uma alteração no ambiente da criança, como uma
mudança de escola ou para uma nova casa.
Algumas características:
- Sentem-se pouco à vontade quando se
deslocam sozinhas, afastando-se de casa ou de lugares familiares;
- Podem recusar-se a dormir em casa
de amigos, a fazer recados ou a ir à escola;
- Podem ser incapazes de permanecer
sozinhas num quarto;
- Podem apresentar um comportamento
“adesivo”, seguindo os pais para todo o lado;
- São comuns queixas físicas como
dores de cabeça ou vómitos quando se prevê que irá ocorrer uma separação;
- Grande preocupação com medos
relacionados a acidentes, doenças ou morte daqueles a quem estão vinculados;
- Dificuldades em adormecer de forma
autónoma.
Reforço que estas sensações são
manifestações de que a nossa mente pode estar perturbada, devendo-se, assim,
procurar a origem e causas dos problemas que “estão invariavelmente ligadas às
relações sociais e de vinculação”. Uma avaliação rigorosa da situação e a
intervenção por um técnico especializado, permite que a criança comece a
perceber melhor as suas sensações e emoções, sendo gradualmente cada vez mais
capaz de geri-las de forma autónoma.
Se precisar de ajuda,
contacte-nos!
Dr.ª Sara Loios
Psicóloga Clínica de Crianças, Adolescentes e Famílias
Cédula Profissional nº 20837
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