"É ATRAVÉS DA VIA EMOCIONAL QUE A CRIANÇA APREENDE O MUNDO EXTERIOR, E SE CONSTRÓI ENQUANTO PESSOA"
João dos Santos
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segunda-feira, fevereiro 18, 2019

Ansiedade de Separação

"Pai, Mãe... Não me deixem sozinho"


- A Ansiedade de Separação - 



O facto da infância e da adolescência serem períodos caracterizados por grandes e impactantes mudanças físicas e psicológicas, torna natural que as crianças e jovens experimentem diferentes níveis de stress face a todos os novos desafios que estas novas mudanças acarretam. No entanto, algumas destas crianças e jovens não são capazes de atingir um ajustamento psicossocial saudável, podendo apresentar diferentes perturbações ou sintomatologias, como a ansiedade, que podem influenciar o seu desenvolvimento e funcionamento nos vários contextos onde se encontram inseridas, nomeadamente familiar, escolar e social.

Para a maioria das crianças e dos adolescentes, a ansiedade é uma experiência comum, funcional e transitória, através do qual o nosso organismo se adapta normalmente às diversas situações. No entanto, esta ansiedade pode aumentar de intensidade e tornar-se, muitas vezes, exagerada ou desproporcional em relação ao estímulo, interferindo na qualidade de vida ou desempenho diário da criança ou jovem.

No que diz respeito à frequência das perturbações ansiosas nestas faixas etárias, o Transtorno de Ansiedade de Separação (TAS) abrange aproximadamente metade dos casos ansiedade, revelando ser a manifestação ansiosa mais frequente.

De acordo com a literatura, o transtorno de ansiedade de separação é caraterizado por  uma ansiedade excessiva em relação ao afastamento dos pais ou outros cuidadores, que persiste, no mínimo, por quatro semanas, causando sofrimento intenso e prejuízos significativos em diferentes áreas da vida da criança ou jovem. Quando a criança percebe que os seus pais têm de se ir embora, são comuns algumas manifestações físicas, tais como dor abdominal, dor de cabeça, náuseas e vómitos. 

Quando estamos na presença do transtorno de ansiedade de separação, estas vivências intensificam-se drasticamente e expressam-se em situações onde o afastamento não justifica a intensidade do comportamento ansioso.

A origem do transtorno de ansiedade de separação é complexa. Diferentes estudos demonstram que tanto fatores biológicos, como ambientais desempenham determinada influência, como por exemplo:

Genéticos: crianças com pais ansiosos têm uma maior probabilidade de apresentar um transtorno de ansiedade;

Psicológicos: Dificuldade ao nível do reconhecimento e gestão das próprias emoções, interferindo na capacidade que a criança ou jovem acredita ter para lidar com as ameaças percebidas;

Relacionados com a família: baixo afeto e envolvimento entre pais e filhos; comportamentos parentais que desencorajam a autonomia da criança; pais superprotetores, vinculação insegura (sobretudo com a mãe); divergência parental; separação ou divórcio; gravidez da mãe ou nascimento de um irmão; doença física ou psicológica de algum dos pais.

No entanto, na maioria dos casos, a perturbação desenvolve-se após alguma situação de stress, tipicamente uma perda, a morte de um familiar ou de um animal de estimação, de uma doença da criança ou de um familiar, de uma alteração no ambiente da criança, como uma mudança de escola ou para uma nova casa.

Algumas características:

- Sentem-se pouco à vontade quando se deslocam sozinhas, afastando-se de casa ou de lugares familiares;
- Podem recusar-se a dormir em casa de amigos, a fazer recados ou a ir à escola;
- Podem ser incapazes de permanecer sozinhas num quarto;
- Podem apresentar um comportamento “adesivo”, seguindo os pais para todo o lado;
- São comuns queixas físicas como dores de cabeça ou vómitos quando se prevê que irá ocorrer uma separação;
- Grande preocupação com medos relacionados a acidentes, doenças ou morte daqueles a quem estão vinculados;
- Dificuldades em adormecer de forma autónoma.

Reforço que estas sensações são manifestações de que a nossa mente pode estar perturbada, devendo-se, assim, procurar a origem e causas dos problemas que “estão invariavelmente ligadas às relações sociais e de vinculação”. Uma avaliação rigorosa da situação e a intervenção por um técnico especializado, permite que a criança comece a perceber melhor as suas sensações e emoções, sendo gradualmente cada vez mais capaz de geri-las de forma autónoma.

Se precisar de ajuda, contacte-nos! 


Dr.ª Sara Loios
Psicóloga Clínica de Crianças, Adolescentes e Famílias
Cédula Profissional nº 20837

terça-feira, janeiro 08, 2019

Depressão... Uma doença apenas dos adultos ou também das crianças?


Depressão Infantil


Será a depressão uma doença apenas dos adultos ou também das crianças?



Inicialmente, considerava-se que era praticamente insignificante a incidência de perturbações afetivas em idades infantis. Esta situação acontecia pois os fenómenos afetivos nestas idades tornam-se difíceis de identificar, dada a dificuldade em diferenciar os fenómenos físicos, dos fenómenos psicológicos, em crianças que se encontram em desenvolvimento.

Além do mais, nenhum pai ou mãe está à espera que o seu filho adoeça do ponto de vista psicológico. Sabem à partida que o mal-estar físico é praticamente inevitável e adaptam-se facilmente à ideia de ver os filhos com dores de dentes, constipados ou com algum membro fraturado enquanto estavam a brincar na escola. Afligem-se quase sempre, assumem que dariam tudo para livrá-las daquele sofrimento, mas sobrevivem. No entanto, ninguém está preparado para reconhecer que o seu filho, ainda tão pequenino, possa sofrer de uma doença que nos habituámos a atribuir aos adultos.

De facto, muitas das situações afetivas e manifestações depressivas aparecem nas crianças e adolescentes como que mascaradas através destes tais sintomas físicos, como por exemplo, “alterações comportamentais”, de “insucessos escolares”, “crises existenciais”, "perturbações do desenvolvimento”, “consumos”, entre outros. Tais manifestações só chegam a ser diagnosticadas, muitas vezes, como verdadeiras quando, num caso extremo, o jovem ameaça a sua própria vida.

Ao contrário do que sucede na grande maioria das vezes no adolescente e no adulto, em que a depressão tem um carácter inibitório, na criança a depressão aparece com manifestações de angústia ou mesmo de agitação psicomotora, em que a criança precisa de estar em constante movimento.

Para o diagnóstico de uma perturbação afetiva, nos períodos de crescimento e desenvolvimento, deve sempre ter-se em conta uma perspetiva sistémica, como por exemplo, o contexto sóciofamiliar em que a criança e/ou o adolescente se encontram inseridos, pois, muitas vezes, o sintoma da criança é o reflexo de alguma forma de mal-estar familiar, um sinal de que alguma coisa não está bem e é a criança que se assume como a voz do problema.

Embora assuma características menos nítidas que no adulto, algumas depressões podem adquirir na criança uma expressão bastante evidente, sendo que alguns dos sintomas clínicos que nos permitem avaliar a reação depressiva na criança são os seguintes:

  •        Tristeza acentuada e duradoura, com choro fácil;
  •        Insónia ou hipersónia;
  •        Inibição psicomotora ou agitação;
  •        Isolamento e desinteresse mais ou menos aparente, aborrecimento;
  •        Sentimentos de culpabilidade e de abandono. Sentem-se mal amados, rejeitados, e o abandono dos colegas;
  •        Fobias;
  •        Fraca capacidade de encontrar satisfação, fácil desistência;
  •        Incapacidade de receber ajuda e conforto, embora haja pedido explícito;
  •     Grande angústia;
  •        Baixa de rendimento escolar e da capacidade de concentração;
  •        Auto depreciação e fraca autoestima;
  •        Sintomas físicos diversos – trata-se, em regra, de uma forma de depressão mais leve. Na idade pré-escolar, são frequentes a enurese, a encoprese, a anorexia ou bulimia. Na idade escolar, predominam, a insónia, a fadiga, as dores abdominais e a irritabilidade.


Concluindo, pode-se verificar que alguns dos sintomas que caracterizam a depressão do adulto se encontram igualmente na infância e na adolescência. Se reconhece algum destes sintomas no seu filho ou alguém próximo, não hesite em procurar ajuda. As dificuldades são reais, não podem ser atribuídas ao desenvolvimento e precisam de ser, pelo menos, avaliadas por alguém clinicamente experiente.

Uma avaliação rigorosa - realizada por um psicólogo infantil - permite imediatamente que a família se sinta ajudada e que adquira novamente o bem-estar. Se tiver alguma dúvida ou precisar de algum tipo de apoio ou aconselhamento, terei todo o gosto em recebê-lo, ou receber-vos, e ajudar-vos nesta vossa caminhada.

Dr.ª Sara Loios
Psicóloga Clínica de Crianças, Adolescentes e Famílias
Cédula Profissional nº 20837