"É ATRAVÉS DA VIA EMOCIONAL QUE A CRIANÇA APREENDE O MUNDO EXTERIOR, E SE CONSTRÓI ENQUANTO PESSOA"
João dos Santos
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domingo, setembro 24, 2017

Como comunicar aos filhos pequenos que o casal se vai divorciar?


Artigo Publicado In Saúde Activa, Março 2011,  por Dra Maria de Jesus Candeias Candeias, Psicóloga Clínica, Psicoterapeuta

A separação de um casal é sempre um processo difícil, que acarreta alterações no quotidiano para toda a família. Tanto mais quando existem filhos no meio, perdidos entre inseguranças, receios e falsas culpas.

Numa situação de divórcio, não só os pais são assaltados por sentimentos avassaladores, também as crianças sentem raiva, tristeza, fracasso ou dor. Será bom não esquecer este facto e criar condições para que uma expressão emocional adequada possa acontecer.

O sofrimento dos filhos com o divórcio dos pais é uma realidade da qual não há como escapar. Porém, o modo como as crianças reagem depende, em grande escala, da maneira como seus pais se comportam, encaram esta mudança e agem um com o outro.
O que desestabiliza emocionalmente os filhos, por ocasião de um divórcio dos pais, não é só a separação em si, mas também os conflitos prévios e o modo como a separação é transmitida e vivenciada daí em diante por ambos os progenitores.

Antes de mais, e sem rodeios, é importante assumirmos que este é um passo difícil, tanto para os pais, como para as crianças. Não há forma de o tornar indolor. No entanto, há algumas variáveis que podem facilitar ou dificultar o processo.

Se a separação ainda não é uma certeza, isto é, se o casal está temporariamente separado ou se já houve outras saídas de casa antes, é contraproducente dizer aos filhos que os pais se vão divorciar. É importante que as reacções geradas por impulso sejam devidamente ponderadas, para que a precipitação dos adultos não magoe as crianças inutilmente.

Por outro lado, a partir do momento em que o divórcio é uma certeza, os pais devem preparar-se para contar aos filhos. As crianças confiam plenamente nos pais e, se perceberem que estes estão a esconder-lhes a verdade, sofrerão sozinhas e tenderão a confiar muito menos nos adultos em geral.
Para minimizar o sofrimento dos filhos, os pais devem antes de mais promover uma postura da verdade. Depois de tomada a decisão da separação, não vale a pena deixar arrastar a conversa obrigatória com os filhos. O pior é deixá-los perceber que algo se passa sem se prontificarem desde logo para falar, esclarecer e dissipar dúvidas.
 A dúvida só potencia sentimentos de insegurança e medo aos filhos, que não compreendem exactamente o que está a acontecer. A criança deve ficar a par da nova situação, o mais cedo possível e sempre em conversa, conjunta, com o pai e a mãe, juntos, e nunca por intermédio de terceiros.

Por isso, é importante que os pais se organizem em nome do bem-estar dos filhos e… CONTEM A VERDADE. Idealmente, “a” conversa deverá ocorrer quando todos os membros da família estiverem presentes. Claro que isto nem sempre é possível. A mágoa e o ressentimento podem impedir o casal de viver esta etapa a dois. Se tal não for possível, é importante que ambos digam mais ou menos a mesma coisa em momentos distintos.
Mesmo com crianças mais pequenas, é importante verbalizar a situação, nem que seja através de uma história que ilustre de forma, o mais realista possível o que se vai passar.

Há que ter sempre em atenção a capacidade de compreensão da criança, adaptando aquilo que se vai dizer à sua idade, e não esquecer que esta deve ser poupada a pormenores detalhados da separação que só contribuem para aumentar sentimentos negativos. A honestidade e serenidade devem estar presentes no discurso.

Mesmo quando a relação do casal já comporta alguma agressividade, expressa em momentos de discussões abertas, a conversa com a criança deve ser calma e serena. Explicado o porquê, os pais, por muito que lhes custe ver os filho sofrer, devem abrir um espaço para que as crianças manifestem os seus sentimentos. É importante deixá-las chorar ou mesmo expressar de forma livre todas as emoções negativas e dúvidas que geralmente marcam a reacção ao divórcio: raiva, insegurança, dor. É essencial estarem atentos aos sinais posteriores, verbais e não verbais, que a criança venha a transmitir.

O facto de as crianças, nomeadamente as crianças pequenas, não se pronunciarem em relação ao tema não quer dizer que não saibam de nada. Nalguns casos as crianças decidem cooperar com o “jogo”, respeitando o silêncio dos pais. Percebem que o assunto é melindroso e adoptam uma postura protectora: se os pais não falam, elas também não. Este sofrimento solitário pode traduzir-se em reacções muito diferentes:

- Há crianças que se portam excepcionalmente bem, achando que detêm alguma culpa nesta desgraça;
- Outras manifestam a sua tristeza através de “dores de barriga”, birras inesperadas ou resistência à escola;
- Algumas crianças tentam “proteger” o progenitor que é visto como mais fraco – o que chora mais, o que foi traído, ou o que se mostra mais abatido com a separação.
- Também há crianças que “fogem” do assunto como quem foge do monstro papão.

Quanto mais novos forem os filhos, maior a necessidade de sentirem a segurança das decisões dos pais. Daí que seja importante contar-lhes as mudanças que aí vêm. Cabe aos pais tentarem antecipar estas dúvidas.

Mesmo nos casos de divórcios litigiosos ou conflituosos, os pais devem fazer um esforço para que esta hostilidade não tenha os filhos por espectadores. Decidir a nova situação familiar - custódia, visitas, apoio financeiro, etc. - não pode ser pretexto para mais discussões.
Pelo contrário, a nova rotina familiar deve ser apresentada à criança serenamente para que esta sinta alguma segurança e confiança na sua nova vida.

São, ainda, de evitar comportamentos que envolvam os filhos no processo de divórcio, como ter discussões à frente deles ou usá-los como “arma” nas zangas.
Para marcar bem a distinção entre o que se passa na vida de casal e o que acontece entre pais e filhos, não se pode criticar a outra figura parental em frente à criança, utilizá-la como tema de discussão entre pai e mãe ou recorrer a comparações do género "a mãe gosta mais de ti do que o pai porque ele é que se foi embora". Afirmações deste género, vão futuramente levar a criança anão querer estar com o progenitor que é visto por ele como o rejeitante, o que pôs fim ao casamento. O respeito entre os ex-cônjuges
é essencial para a manutenção do bem-estar dos filhos.
As crianças devem também ser esclarecidas acerca do facto do processo de divórcio ser permanente, de forma a não alimentarem a fantasia de uma reconciliação. Logo, o casal só deve ter esta conversa com as crianças quando o divórcio é, para eles próprios,
uma situação irreversível, quando a decisão está definitivamente tomada. Os pais devem igualmente, deixar claro que ser filho de pais separados não é motivo de vergonha ou embaraço e que estão sempre disponíveis para apoiar os filhos no sentido de superarem as dificuldades inerentes à sua adaptação a uma nova situação familiar.

Esta conversa (ou estas conversas…) deve(m) servir para lembrar às crianças que ELAS NÃO TÊM CULPA NENHUMA do que está a acontecer.
Garantir às crianças que os dois vão continuar a acompanhá-las é  fundamental. Mais do que nunca é importante assegurar-lhes que ambos vão marcar presença nas suas rotinas e nas diferentes e actividades que compõem as suas vidas: escola, actividades de tempos livres, idas ao médico, mas também as refeições, a hora do deitar e o tempo em frente à televisão.

O facto de os pais já não conseguirem viver juntos não deve implicar que os filhos percam o contacto regular com qualquer um deles, já que isso prejudicaria o seu desenvolvimento.

O pai e a mãe fazem parte do património da criança. Quando um dos progenitores dificulta ou impede o contacto com o outro está seriamente a prejudicar a criança e o seu bem-estar futuro. Do mesmo modo a criança tem direito à sua família alargada (avós, tios, primos) maternos e paternos, pelo que tudo deve ser feito para que estes laços não se percam com a mudança.
Sintetizando, eis alguns conselhos para falar de divórcio com os filhos:
- Explique ao seu filho, que o pai e a mãe já não podem ou não desejam viver juntos, e que a partir de agora, viverão em casas diferentes.

- Fale com seus filhos da realidade da separação, tendo o cuidado de não culpar a ninguém.
- Assegure repetidamente aos seus filhos que ambos pais, continuam a amá-los da mesma e que ele será visitado pelo pai ou a mãe que não ficar com a sua custódia. 
- Mantenham constantes ao máximo as rotinas habituais das criança : domicílio, ambiente, relações com os pais, colégio, horários, amigos, etc. 
- Assegure aos seus filhos que eles não têm nenhuma responsabilidade pelo que ocorreu, pelo divórcio. Eles não têm culpa.
- Explique claramente que o divórcio é definitivo. Que não existe a possibilidade de voltar atrás.
- Trate de proteger as opiniões positivas que seu filho tem de ambos pais.
- Facilite a relação do seu filho com o progenitor, sendo flexível nos horários, etc.
- Trate com o progenitor que não teve a custódia, tudo relacionado com a educação, saúde, etc. do seu filho, e não use a criança como mensageiro.
È importante que os pais nãos e esqueçam que no divórcio, o conflito é conjugal e não parental, e que quando se estão a separar se estão a separar do cônjuge e não dos filhos.

M. Jesus Candeias, Psicóloga clínica e Psicoterapeuta.

jesuscandeias@gmail.com

domingo, fevereiro 27, 2011

Como enfrentar o divórcio dos pais?

Nunca esquecer que nem a figura do pai nem a da mãe são substituíveis e essa realidade deve ser encarada.

Por vezes o casamento sofre alterações, podendo surgir a ruptura, a separação e o divórcio. Muito comuns hoje em dia, a separação ou o divórcio não devem nunca incluir os papéis de pai e de mãe.
Muitas vezes os pais não têm consciência do processo complexo e dinâmico que está a ser vivido pela criança e da forma como poderão surgir consequências futuras por haver uma mistura entre a separação e a parentalidade. Os pais, mesmo separados, devem manter-se, dentro do possível, unidos como pais da criança e tentarem preservar a imagem um do outro.
 
A imagem dos pais
Na maioria das vezes as crianças ficam com a mãe. O seu papel em todo este processo é muito importante, quer na imagem do pai que é passada à criança, quer na introdução do pai na relação que tem com o filho (no caso de ser um pai que, embora ausente, por vezes está presente).
Uma imagem negativa do pai, que é constantemente reforçada através de comentários e observações, é prejudicial à criança e também à mãe, acabando por influenciar a relação entre ambas. A mãe não deve em nenhum momento vincular o ódio ou a raiva em relação ao pai. Obviamente que o contrário também é válido.
Nem a figura do pai nem a da mãe são substituíveis e essa realidade deve ser encarada. A mãe não tem que ser ao mesmo tempo pai e deve estar consciente de que não o poderá ser para não criar falsas expectativas que só conduzem a sensações de falha e culpabilidades. O mesmo acontece no que se refere à perspectiva do pai.
 
A compensação com as prendas
Um outro aspecto importante diz respeito aos presentes. É essencial não cair no erro de tentar compensar falhas com prendas. Apesar de delicada, esta é uma questão que tem que ser encarada com frontalidade, pois mesmo inconscientemente os pais poderão querer compensar a sua ausência ou despertar uma maior atenção da criança através de presentes mais caros ou maiores.
Este não é um caminho correcto e na maioria das vezes não conduz aos resultados esperados, porque a criança valorizará sempre mais a presença e o amor do que os presentes, apesar de poder ficar muito contente quando os recebe.
 
A responsabilidade de ser pai/mãe
Na realidade, a separação dos pais não deve incluir a parentalidade ou maternalidade, que são uma responsabilidade permanente de ambos. A questão central prende-se com colocar os interesses da criança em primeiro lugar e acima de qualquer discussão ou conflito.
O pai ou a mãe poderão encontrar outra pessoa, com quem desejam formar uma nova família. Trata-se de constituir uma nova família tendo sempre em conta que esse vínculo anterior deixou os seus frutos. É necessário conquistar a estabilidade depois de ultrapassar os primeiros tempos em que se abandonam as antigas maneiras de estar e de lidar com as situações e com as diferenças de opinião.
Também para as crianças este não é um processo fácil. Exige uma adaptação que demora o seu tempo e que poderá ser bastante complicada ao início. A melhor receita para lidar com a situação será sempre a capacidade de se colocarem no lugar da criança, de a respeitarem e compreenderem.

Maria de Jesus Candeias, Psicóloga infantil e Psicoterapeuta

domingo, fevereiro 13, 2011

A Criança face ao divórcio dos pais..


O divórcio dos pais é sempre um acontecimento doloroso e marcante na vida da criança qualquer que seja a idade.

Em idades precoces, pré – escolares, os efeitos não tardam a surgir, a criança fica agitada, confusa e sente-se muito vulnerável, tendendo a culpar-se “ o pai foi-se embora porque eu sou mau” entre outras coisas que assentam sempre na sua responsabilidade pela separação dos pais.
As crianças pequenas como ainda são muito auto-centradas tendem a culpabilizar-se, assumindo a responsabilidade pelo que aconteceu entre o pai e mãe.

Quando são mais velhas, em idades escolares, sobrevêm a tristeza e a depressão na maioria das situações, transtornos psicossomáticos (dores de cabeça, dores de barriga, vómitos, diarreia etc.), em ambas as situações existe prejuízo para um bom decorrer da adolescência e adulticia.

As figuras parentais são fundamentais para a forma como se vão desenvolver os processos psíquicos da criança após a separação. Digo figuras parentais, porque nem sempre são os pais biológicos a desempenharem esse papel.

Não raras vezes, o que acontece é que na situação de divórcio o casal está muito embrenhado na situação e pouco disponível para os filhos. A  ausência de interacções protectoras e segurizantes decorrentes dessa fase podem resultar em dificuldades  na criança ao nível do relacionamento com amigos, professores, familiares e da própria criança consigo mesma.

O divórcio dos pais quando é mal integrado pela criança, quando a criança se sentiu arma de arremesso entre o casal, quando um dos pais utiliza a criança para denegrir a imagem do outro, faz chantagem, ameaça, agride, entre outras situações, pode comprometer um bom desenvolvimento emocional no futuro.

Ainda que o divórcio seja entre o pai e a mãe, a criança também passa por essa separação, pois tem que separar o que outrora tinha unido dentro de si. A negação e a recusa vão actuar impelindo a criança a fazer tentativas de juntar os dois. É uma perda que aos olhos da criança pode ser reversível, alimentando a esperança e a ilusão que isso vai acontecer.

Durante muito tempo a criança vai dedicar-se a encontrar estratégias de reconciliar os pais e voltar a tê-los de novo perto de si. Nessa fase de tentativa de os aproximar as actividades escolares vão ser deixadas de lado, as notas vão baixar, o interesse pelas brincadeiras diminui, os seus interesses e fantasias vão estar ocupados com essa tarefa.

Nem sempre o divórcio é um factor de estabilidade para a criança. O facto de poder estar longe de brigas e agressões que possam existir, faz com que perca na mesma a sua referência da família, e em muitas situações começam as brigas novamente sendo a criança o elo de ligação e o correio entre os pais.

Quando a criança tem 10 -11 anos e mais, um dos sintomas que aparece é começar a apresentar uma maturidade que na realidade não tem. Adopta posições de distância com um controlo excessivo de si mesmo, a fim de negar os sentimentos de vergonha e neutralizar a ansiedade, bem como sondar os limites da situação familiar, face a uma nova realidade. Nessa fase pode ser impelido a experimentar drogas e álcool e a iniciar a vida sexual como forma de arranjar companhia e combater o sentimento de abandono gerado pelo desfazer da família.

Muitas crianças e adolescentes não aceitam a separação e começam a agir essa dor com comportamentos agressivos manifestado hostilidade e desgosto. Com frequência culpam o conjugue como qual vivem, normalmente culpam a mãe por não ser capaz de manter a família unida. Quando visitam o outro conjugue seja o pai ou mãe não se atrevem a manifestar o desgosto com medo de perder mais essa relação e a família com receio de acabar com uma relação já de si insegura.
Porém, mais vale ter uma relação insegura que ser abandonado, sentimento que acompanha sempre a criança. Apontam algumas estatísticas que dois meses depois de decretado o divórcio menos de metade dos pais vê o filho apenas uma vez por semana. Passado um ano mais de metade nem sequer a visita.

O perigo de desequilíbrios psicológicos por causa do divórcio dos pais aumenta se a criança já tem predisposição para ser vulnerável por antecedentes familiares de depressão, pela própria perda ou pelo reavivar na memória de outras perdas mais precoces, como por exemplo uma ausência prolongada da mãe ou do pai sentida como abandónica.

O divórcio não significa um ponto final no confronto entre os pais, por vezes eles estão apenas a começar, o casal reaviva os problemas, não se consegue descentrar dos seus problemas e não consegue gerir em conjunto as coisas do filho mais simples, como comprar roupa, uma saída com amigos, a imposição de um limite. Se um diz não, o outro para ser melhor diz que sim. Assim se vai instalando a confusão mental na criança que se vê quase sempre no meio dos pais em que cada um denigre a imagem do outro a cada dia que passa.

O impacto do divórcio na criança depende sempre da estabilidade do progenitor com quem ficar e da relação saudável ( dentro do possível num contexto de separação) que os pais consigam quer estabelecer entre si, quer com as crianças.

Muitas vezes, a fragilidade afectiva dos pais a seguir ao divórcio faz com que fiquem incapazes de atender as necessidades dos filhos.
 A criança sofre imenso quando é utilizada como instrumento de negociação entre os pais e quando pai ou mãe estão deprimidos e a tentam absorver como busca de companhia e apoio. Desgastam afectivamente a criança/ adolescente que se viu forçada a ser o amparo do progenitor deprimido.

Em situações destas a busca de ajuda especializada poderá evitar graves prejuízos na vida futura da criança.

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Depressão Infantil


Embora estejamos cada vez mais familiarizados com o tema da depressão, raramente ouvimos falar de crianças deprimidas. Mas isso não significa que esses casos não existam.

Estima-se que esta perturbação atinja 4 a 8% das crianças e sabe-se que esta incidência tende a subir na adolescência.
A depressão infantil ocorre, em 20% dos casos, em crianças na faixa etária entre 9 e 17 anos, e é causada geralmente, por dificuldades de relacionamentos com a própria família, na escola ou em outros locais que frequentam.
Mas o número mais alarmante diz respeito ao facto de esta ser uma realidade que tende a passar despercebida aos olhos de 70% dos pais.
“Como é que isso é possível?”, perguntar-me-ão. Apesar de algumas crianças manifestarem a sua depressão através dos sintomas clássicos (tristeza, pessimismo, ansiedade, etc.), a maioria fá-lo de forma atípica, o que dificulta o diagnóstico.

Assim, na maior parte dos casos, as alterações mais visíveis tendem a confundir-se com rebeldia: irritabilidade, agressividade, hiperactividade e/ou diminuição do rendimento escolar.

Esta manifestação atípica impede muitos pais de perceberem a origem dos problemas e, assim, darem uma resposta eficaz.

O grito de alerta tende a surgir aquando do aparecimento de alterações menos expectáveis, como o medo da morte (conversas recorrentes sobre o tema), sentimentos de culpa e de inutilidade e retrocessos, como a encoprese ou a enurese (defecar ou urinar na roupa ou na cama).

É necessário que nos consciencializemos de que a depressão infantil existe e pode ser grave! Infelizmente, nem todas as crianças são felizes e despreocupadas!!


Tentando clarificar melhor os Sintomas que podem servir de alerta aos pais…


Como já referi, a depressão não se manifesta do mesmo modo, de acordo com a idade da criança, assim poderíamos tentar agrupar os sintomas mais específicos, de acordo com a idade, da seguinte forma:


Feto: Os fetos podem deprimir, é verdade! Tudo pode começar bem cedo! Isto pode acontecer, devido por exemplo, à ansiedade maternal na gravidez, pelo atraso no desenvolvimento fetal ou após o nascimento, entre outros factores.

Primeira Infância (0 a 2 anos): a depressão nos bebés manifesta-se por, uma recusa acentuada da criança em alimentar-se; um atraso no crescimento, no desenvolvimento psicomotor, da linguagem; perturbação do sono e afecções somáticas (A criança que está muitas vezes doente, faz febres, gripes, viroses com muita frequência!)

Idade pré-escolar (2 a 6 anos): nesta fase a perturbação depressiva, manifesta-se mais por distúrbios de humor (grandes birras, ou grande euforia momentânea substituída rapidamente por grande tristeza e apatia) distúrbio vegetativo (em que a criança não sabe nem gosta de brincar, isola-se muito e fica muito parada no seu canto. Não se interessa por nada). 
Nesta fase pode ainda verificar-se comportamentos regressivos a todos os níveis, nomeadamente a nível esfincteriano (podem voltar a fazer cocó e chichi nas cuecas ou na cama), motor e de linguagem.

Idade Escolar (6 a 12 anos): Entre os seis e os oito anos, o quadro depressivo caracteriza-se por tristeza prolongada, ansiedade de separação (a criança que não quer deixar a mãe para ir para a escola) e sintomas psicossomáticos ( dores de cabeça, dores de barriga, diarreias, febres) .
As crianças com mais de oito anos, expressam os seus sentimentos depressivos através de baixa auto-estima, ideias auto- depreciatórias, sintomas psicossomáticos, baixa de energia,desinteresse e desespero.
A depressão manifesta-se muitas vezes através das dificuldades escolares, ao nível da ansiedade, do desinteresse, das dificuldades da concentração intelectual e dos problemas de comportamento, para além dos problemas alimentares e de sono. Podem também surgir queixas psicossomáticas. Pode ainda verificar-se um aumento agressiviadde, grande irritabilidade, com envolvimento da criança em conflitos com os pares.
Um outro sintoma que pode ocultar também uma depressão é a “hiperactividade”,as crianças muito irrequietas, que não conseguem manter um mínimo de atenção nem de concentração.

Prevenção

Em vez de prevenção, podia estar escrito amor.
Os pais são os melhores actores na prevenção da depressão infantil, dando-lhes o seu amor e carinho, bem como compreensão e amparo e transmissão de confiança.

Tratamento

Como podem os pais ajudar….
Numa primeira fase, o papel dos pais passa por tentar perceber e empatizar com as dificuldades da criança, mesmo que estas pareçam insignificantes. Por exemplo, a mudança de casa ou de escola acarreta mais medos e angústias do que os adultos possam imaginar. Deve existir um ambiente de confiança, propício a que a criança se sinta à vontade para explorar as suas dificuldades. Os pais devem incentivar a criança a falar e entender os seus receios.

Quando recorrer ao psicólogo…


É pois importante que os pais estejam atentos às ALTERAÇÕES REPENTINAS do comportamento e do humor dos filhos.

Se estas alterações se prolongarem por mais de duas semanas, sem que haja uma causa identificável, é importante pedir ajuda de um Psicólogo ou Psicoterapeuta.
Tal como acontece noutras circunstâncias, os pais podem sentir-se incapazes de dar resposta a este tipo de problemas, pelo que a intervenção de um especialista passa a ser imprescindível.
No entanto é importante salientar que as crianças, pelo facto de ainda estarem em desenvolvimento são mais flexíveis, permeáveis, e aderem muito bem à psicoterapia o que permite uma evolução muito rápida no tratamento e um elevado grau de confiança no sucesso da intervenção.

A Psicoterapia com crianças é diferente da psicoterapia com adultos. A Psicoterapia com crianças inclui conselhos educativos e explicações; recurso aos jogos, às brincadeiras e ao desenho; a atitude do psicoterapeuta é mais participativa.
Com as crianças o ritmo das sessões variável, de acordo com a tolerância da criança.
Na Psicoterapia com crianças é muitas vezes necessário o envolvimento dos
pais na terapia
, pelo que além do trabalho com a criança é necessário também algumas sessões com os pais.

sexta-feira, janeiro 28, 2011

Fobia escolar

O Início do ano lectivo está aí e o retorno ou a entrada na escola nem sempre é calma e tranquila para todas as crianças.


Há sempre algum nervosimo e ansiedade no retorno, pode mesmo para alguns atingir niveis muito elevados de ansiedade e angustia com uma recusa total à escola: a Fobia escolar

A Fobia escolar afecta, cerca de 5% de crianças do jardim de infância, e cerca de 2% de crianças do ensino básico registando-se uma maior incidência de fobia escolar no primeiro ano lectivo da criança.


No entanto não é raro que a fobia escolar apareça no, 2º ciclo, ou secundário ou até mesmo na entrada da faculdade, pois como referido estas manifestações estão muito associadas a “ansiedade face ao desconhecido” e as mudanças de ciclo escolar, são sempre algo muito significativas para a criança e /ou adolescente.

O que caracteriza uma fobia escolar?

A Fobia escolar é um medo exacerbado que a criança sente em ir para a escola.
A Fobia escolar é uma perturbaçao da ansiedade e tem tratamento.

Numa situação típica de fobia escolar, a criança/jovem logo de manhã acorda com queixumes de dor de barriga associado por vezes a vómitos, diarreias, dor de cabeça, com intensificação do sintoma à medida que se aproxima a hora de ir para a escola, com verbalização do tipo “…não quero ir para a escola…” ou por vezes na véspera poderá surgir a questão “…amanhã é dia de ir para a escola?...” Despertando nos próprios pais alguma ansiedade na busca de melhor lidar com a situação e não deitar tudo a perder.

Na Fobia escolar da criança está, quase sempre, latente uma grande “ansiedade de separação” dos seus pais e do mundo que lhe é familiar e no qual se sente protegido.
Estas crianças geralmente, apresentam também, dificuldades em dormir sozinhas, medo de ir para casa de amigos, entre outras relutâncias em se distanciar das pessoas com as quais passa a maior parte do tempo.

Esta fobia escolar ou recusa ansiosa escolar é mais frequente no primeiro ano lectivo da vida da criança. Na fobia escolar, a criança fala da escola sempre com medo, negativismo e pode chorar para não ir.

Até se transformar na ‘segunda casa’, a escola representa um mundo desconhecido. Por isso, nos primeiros dias de aula, os sintomas podem ser mais intensos porque a criança se vê às cinco minutos parece uma eternidade.

Na escola, é muito comum, que a criança se afaste dos colegas, se isole, não brinque, já que se sente muito mal lá dentro.

Além da manifestação explícita de não querer ir à escola, a fobia escolar pode atingir sintomas tais como :choro frequente, suores frios ou tremores, diarreia, vómitos, medo de ficar sozinha, medo de algo abstracto, incapacidade de enfrentar o problema sozinha, perda do apetite, voltar a urinar na cama, insónias, pesadelos, entre outros.

A fobia é um problema que difere completamente de preguiça ou má vontade, e do absentismo. Os próprios pais percebem isso no comportamento da criança. Também é diferente da recusa esporádica em ir à escola, especialmente após as férias.

No caso da fobia, as crianças regressam a casa, apresentam ansiedade com sintomas psicossomáticos, enquanto que os absentistas não vão para casa, não sentem ansiedade, nem sintomas. Enquanto que nas fobias as crianças têm um perfil caracterizado por serem conscienciosas, perfeccionistas e bem comportadas, nos absentistas manifestam comportamentos desajustados ou delinquentes. Esta distinção é importante que seja feita, para um modo de abordar e intervir adequado pelos próprios pais.

Geralmente, as crianças que desenvolvem essa ansiedade e medo incontroláveis são boas alunas e não perdem rendimento escolar.

Quando o problema surge é essencial que a equipa da escola saiba o que está acontecendo, pois, muitas vezes, uma figura de confiança do aluno deve acompanhá-lo e permanecer por um determinado período no ambiente escolar, até que ele desenvolva autoconfiança. Os próprios coordenadores podem, por vezes, desempenhar este papel, ao ficarem mais próximos deste aluno, encorajando-o a ponto de se sentir bem na sala de aula.

O que pode estar na origem deste tipo de fobia?
Os motivos que levam a criança a desenvolver fobia escolar podem ser vários ou uma associação deles. Dentre eles estão a predisposição biológica (genética), a mudança de escola, professor severo, conflito com colegas, o temperamento da criança, a vulnerabilidade à acção do ambiente familiar( mudança de casa, divórcio dos pais, morte de um familiar, conflitos familiares), e até mesmo a preocupação excessiva de alguns pais com a separação dos seus filhos.

Os sintomas da fobia escolar estão fortemente associados ao tipo de relação da criança com seus pais, desde o nascimento até a idade pré-escolar.

Porém, é interessante salientar que duas ou mais crianças que recebem a mesma educação, tanto escolar quanto familiar, (filhas dos mesmos pais), não significa necessariamente que todas irão desenvolver fobia escolar.

A fobia escolar também pode ter origem em agressões verbais ou físicas de que a criança foi vítima na escola ( ou seja, ser vítima de bullying).

Em que é que difere de uma ansiedade normal no regresso às aulas?

O primeiro ou primeiros dias desencadeiam naturalmente algum nervosismo, perante a ideia de novos professores, nova turma, nova escola ou simplesmente a mudança de rotina das férias para as aulas, até os mais calmos poderão ficar afectados nas primeiras semanas de aulas.

Outros casos existem em que a ansiedade normal pode dar lugar a medos mais significativos. As fobias ocorrem com frequência nas crianças e por vezes desaparecem espontaneamente, sinal que a criança conseguiu ultrapassar os seus receios.
No caso específico da fobia escolar, enquanto perturbação emocional que desencadeia uma resposta fóbica face à escola, inicialmente não deverá ser motivo de alarme, de um modo tranquilo os pais deverão sempre incentivar e encarar com optimismo a hora de ir para a escola, sem forçar bruscamente mas persistir no cumprimento da assiduidade escolar.
Caso este comportamento persista para além de dois meses, será importante procurar outro tipo de suporte de modo a evitar o agravamento da situação, mesmo na futura vida escolar e social da criança/jovem.
O que podem os pais fazer para ajudar os filhos com fobia escolar?
È muito importante que os pais, não ridicularizarem ou subestimem os medos da criança, pelo contrário, devem mostrar compreensão.

Porém, também devem facilitar que a criança se afaste da escola. No momento de ir para escola os pais devem ser firmes, mas respeitar a limitação de seus filhos, pois para eles já é muito difícil estar com esta dificuldade.

È importante Incentivar a criança a ir à escola, nunca obrigá-la e tentar tranquilizá-la, que no fim do dia volta a estar com os pais. Por vezes os pais poderão mesmo ter de permanecer durante alguns periodos na escoal para ajudar a criança a tranquilizar-se.
Manter o máximo de diálogo com a criança
Ajudar a criança a encontrar o meio de superar o obstáculo
Fazer com que os amigos sejam elementos importantes na inserção na escola.

Se os sintomas persistirem para além de dois meses, e em casos mais críticos, os pais devem encaminhar o filho para psicoterapia.O tratamento da criança com fobia escolar deve ser abrangente: é necessária a participação efectiva da escola, dos pais e do psicólogo. Essa interacção, entre todos e esse envolvimento é que vão fazer com que a criança supere a fobia.


É fundamental que os pais fiquem atentos quanto à procura de profissionais especializados ( psicólogos ou psicoterapeutas) dado que esta fobia pode ocasionar um afastamento da escola, fracasso e repetência escolar, vergonha de enfrentar novamente os colegas, entre outros factores.

Todos estas consequências reduzem a auto-estima da criança, com consequências para o resto de sua vida. Além disso, a tendência de uma criança com fobia escolar, se não for ajudada a ultrapassar a situação, é que desenvolva outros medos, como, por exemplo, de elevador, animais, escuro, etc. Enfim, os danos são grandes quando se adia o tratamento.


Procurar ajuda, ouvir as diretrizes dos profissionais envolvidos e poder dividir as dificuldades que possam encontrar no tratamento de seu filho, contribuirá efetivamente na maravilhosa tarefa de ser pai e mãe e no desenvolvimento de uma criança feliz.