"É ATRAVÉS DA VIA EMOCIONAL QUE A CRIANÇA APREENDE O MUNDO EXTERIOR, E SE CONSTRÓI ENQUANTO PESSOA"
João dos Santos
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segunda-feira, janeiro 22, 2018

Hiperativo ou Irrequieto?

A Irrequietude Motora designa uma actividade marcada, com uma quantidade excessiva de movimentos, sem ter uma implicação de patologia;

A Hiperactividade, aplica-se a diversos tipos de comportamento mal organizado, onde domina uma combinação de irrequietude e desatenção, inadequada para a idade, com grande intensidade e gravidade dos sintomas.

Na Hiperactividade a criança dificilmente conseguirá ter ( mesmo que pequenos) momentos de atenção e concentração, não pára para brincar ou outras actividades, tem problemas graves no sono, e muita dificuldade em parar.

A Criança Irrequieta embora com grande actividade consegue alguns momentos de tranquilidade, consegue descansar, consegue parar quando as actividades lhe interessam.


Como defende João dos Santos, a irrequietude seria uma forma de reacção contra a ansiedade, e surge, muitas vezes de um fundo de depressão.

A criança, incapaz de pensar o sofrimento, utiliza o comportamento como forma de descarga. Age em vez de pensar.

O sintoma psicomotor inicial seria o sinal de uma tentativa de adaptação ao que exigem dela, um pedido de atenção ao seu sofrimento.

A instabilidade tem sempre a ver com uma espécie de fuga para a frente. Há qualquer coisa que leva a criança a não poder estar quieta, calada, silenciosa, a evitar pensar nos fantasmas mais ligados à realidade anterior.

A instabilidade seria, de algum modo, a procura da “estabilidade” de uma idade anterior, “ e, portanto, uma tentativa de “cura” da ansiedade a que conduz a insegurança”(João dos Santos, 2002)

São as marcas desse vivido precoce que perseguem a criança no seu interior, não lhe permitindo qualquer descanso (segurança).

Convém como tal e numa primeira intervenção fazer um diagnóstico correcto se Hiperactivo ou Irrequieto.

A terapêutica essencial a instituir nas crianças irrequietas e/ou Hiperactivas deverá consistir numa perspectiva sistémica, ou seja, em todas os sistemas em que a criança se encontra inserida (na criança, na família, e na escola).

A intervenção deve incidir sobretudo na família e escola, que deverão garantir à criança estabilidade e segurança.

Com a família, importa sobretudo modular a relação pais-filhos, tornando-a menos inquieta, ajudando os pais a acalmarem-se e a lidar de forma mais tranquila, que naturalmente os deixa bastante exaustos, ajudando-os na construção de uma relação mais organizadora e afectivamente mais rica e contentora.

A escola deverá ajudar a criança a pensar melhor, criando situações de aprendizagem serenas e interessantes.

O tratamento/ acompanhamento destas crianças deve ser regular, contínuo e a longo prazo.

Medicar ou não medicar as crianças com  Hiperactividade Infantil????

De acordo com Pedro Strecht assistimos, hoje em dia, a um aumento de crianças desnecessariamente medicadas.

Mais medicadas, não, necessariamente, melhor tratadas, porque ficará por perceber é que a hiperactividade e défice de atenção são meros sinais e sintomas.
Corre-se o risco de tratar sintomas ou doenças e esquecer crianças ou doentes.

A principal tarefa perante uma criança hiperactiva é sempre compreender a origem, o porquê, os significados latentes, desses mesmos sintomas.

Medicar sem compreender é como pôr a chupeta a um bebé sem perceber porque chora.
Não é melhor ver porque chora? Se é fome ou cólicas intestinais?
Voltando à nossa questão: A prescrição da medicação deve ser bastante moderada, devido aos riscos que lhes estão associados.

Taylor ( 1986, cit. por Salgueiro, 2002) num estudo que realizou, com crianças hiperactivas observou que os psicofármacos podem ter efeitos secundários importantes em certas crianças, tais como:
  • Atraso no crescimento e perda de apetite (mais frequentes)
  • Crises convulsivas, taquicardia, hipertensão, agravamento de tiques, estados disfóricos (menos frequentes).
Desta forma,  a medicação pode ser prescrita de forma bem moderada, supervisionada regularmente, nas seguintes condições:
  • Quando a criança corre risco de exclusão escolar ou familiar em virtude do seu comportamento.
  • Quando existe um desafio cognitivo imediato, com risco de retenção para a criança, ou quando esta não consegue aprender devido à falta de atenção.
Porém, sempre, e em simultâneo, a criança deve seguir um tratamento psicoterapêutico.


“Por detrás do que se vê, existe qualquer coisa de mais profundo, menos fácil, um lado lunar, mas infinitamente mais bonito e poético do que a própria vida afinal.
Esquecê-lo é ignorar. Descobri-lo é dar.
Como quem entende os silêncios do que não é dito.
Como quem sabe o que se estrutura para além de uma fachada.
Fala através de ti, com o pedaço de criança que ainda tiveres vivo, e verás o que elas te dizem. Também aí as crianças só falam do que estivermos preparados para ouvir.
Talvez por isto se vejam cada vez mais crianças a quem é colocado o rótulo de hiperactividade com défice de atenção." (Strech, 2005)

Se precisar de ajuda contacte-nos!!

Dra. Maria de Jesus Candeias, 

Psicóloga de Crianças, Adolescentes e Famílias

terça-feira, dezembro 29, 2015

A mentira e o roubo na infância: normal ou patológico ?


Existem alguns comportamentos que fazem parte do normal desenvolvimento da criança, não devendo os pais alarmarem-se quando estes surgirem. 

A mentira, por exemplo, é uma conduta aprendida que faz parte dos comportamentos sociais. Nalgumas situações a mentira torna-se necessária para não magoar os outros, apesar de continuar a ser um comportamento socialmente criticado, suscitando preocupação nos pais. Durante os anos da pré-escola a criança ainda não consegue distinguir completamente a fantasia da realidade e, neste sentido, mentir pode ser uma consequência da sua imaginação e imaturidade. 

Nestes casos, os pais podem apenas mostrar a diferença entre a sua imaginação e a realidade, ou quando se trata de uma situação menos importante, simplesmente ouvir a criança.
  
Com a entrada na escola, a mentira pode surgir após uma asneira, porque a criança já tem capacidade para perceber que errou. Desta forma a mentira funciona como uma forma de evitar o embaraço. Quando mais velhas, as crianças geralmente mentem para negar algo errado que fizeram e evitar a crítica.

No entanto, quando a presença da mentira for tão frequente e intensa na vida da criança  que gere frequentemente dificuldades nas relações interpessoais da criança e/ou comece a afetar o seu funcionamento nos ambientes onde está inserida (casa, escola, amigos) é necessário procurar ajuda. 

Cada situação exige uma atuação diferente, tendo em conta a gravidade e a frequências das mentiras. No entanto é fundamental que a relação da criança com os pais promova segurança para a criança poder dizer a verdade, sem ameaças.

Um outro comportamento muito habitual nas crianças em idade pré-escolar é o tirar coisas (roubo) aos colegas.

Este comportamento pode reflectir imaturidade e incapacidade de esperar pelo que deseja ou por outro lado pode ser uma chamada de atenção sobre si própria, quando percebe que se trata de um comportamento que preocupa os pais. 

Torna-se importante compreender o que conduz a criança a esse comportamento, devendo-se transmitir simultaneamente que aquela não é a melhor maneira de obter a atenção dos pais, obrigando-a a devolver o objecto que retirou. Em idade escolar, já é menos esperado que a criança retira coisas aos outros.

Tanto a mentira como o furto são comportamentos esperados e fazem parte do desenvolvimento humano, porém, caso esses comportamentos tenham presença constante, os pais devem procurar ajuda especializada, de forma a evitar o agravar da situação.

Quando devemos procurar ajuda especializada?

Como atrás referi, é fundamental a distinção entre os comportamentos comuns para uma faixa etária ou nível de desenvolvimento e os comportamentos que permanecem contra aquilo que é esperado. O que os separa é essencialmente a sua gravidade, duração e frequência
No caso da mentira e do roubo,  se a sua presença for constante e se ocorrer simultaneamente em diferentes contextos, o acompanhamento especializado pode ajudar os pais a encontrarem diferentes formas de agir, evitando que a sua relação com a criança seja afectada. 

O psicólogo pode ajudar a família a encontrar outras formas de funcionamento que promovam a modificação de determinados comportamentos. 

A ajuda  profissional pode ser necessária quando a presença de comportamentos considerados difíceis de se lidar for tão frequente que impossibilite uma relação positiva com a criança e/ou que esteja a afetar o seu funcionamento nos ambientes onde está inserida (casa, escola, amigos). 

Em suma, o psicólogo pode, em conjunto com os pais, encontrar a melhor forma de resolver ou atenuar o problema, tendo em conta aquela família em especifico e o meio onde está inserida. 

Dra. Sara Lóios
Psicóloga Clínica Crianças, Adolescentes e Família